“Mais do que recuperação, a transformação da economia é um imperativo no rescaldo da crise sem precedentes que ainda vivemos”. O alerta foi dado pelo presidente da CIP (Confederação Empresarial de Portugal), António Saraiva, na sessão de abertura da Conferência Economia Mais Circular, realizada esta terça-feira, 23 de fevereiro, no Teatro Thalia, Estrada das Laranjeiras, em Lisboa.
“Não nos podemos resignar ao regresso ao passado: transformar implica saber para onde queremos ir, qual a nossa visão do futuro e qual o novo paradigma da economia que queremos construir”, disse o responsável, destacando que a visão de futuro defendida pela CIP passa por uma “economia que concorre nos mercados globais” com base em “aumentos de produtividade”, através de uma “forte aposta na inovação, na organização e na capacidade de gestão”. Neste novo paradigma, segundo a visão da CIP, a economia vai permitir que “as empresas possam libertar uma série de condicionalismos que hoje levam ao desperdício de recursos” e que “ocupam boa parte do precioso tempo dos seus gestores” que “estão preocupados em ultrapassar os problemas laterais colocados por uma inadequada intervenção do Estado na sua atividade quotidiana”. O futuro, tal como perspetiva António Saraiva, passa ainda pela “reorientação da economia para a produção de bens e serviços transacionáveis e assente na competitividade”, bem como “pelo pleno aproveitamento das dinâmicas impulsionadas pela transformação tecnológica e digital”. Uma transformação que “garante às empresas a possibilidade de desenvolver novas tecnologias, adaptando-as à sua realidade, em paralelo, com o seus recursos humanos, passando a incorporá-las nos seus processos e produtos”, precisa.
Mas, o novo paradigma da economia nacional passa também pelas respostas aos desafios da sustentabilidade. O presidente da CIP não tem dúvidas de que, neste processo, o Pacto Ecológico Europeu deve ser encarado como uma “verdadeira estratégia de desenvolvimento e económico para as próximas décadas”, contrariando a “ideia de antagonismo entre crescimento e ambiente”. E as empresas são cruciais para que tudo isto faça sentido: “Apenas, as empresas competitivas e geradoras de riqueza estarão em condições de competir com soluções tecnologias e de sustentar o nível de emprego, algo que será fundamental para que a agenda do Green Deal atinja os seus objetivos: económicos, sociais e ambientais”. Tal estratégia, defende António Saraiva, exige um “forte pilar económico” para garantir que a transição não leva à “desindustrialização”, nem à “destruição de emprego”: “Sustentabilidade ambiental implica que as atividades produtivas sejam cada vez mais alicerçadas na economia circular”.
Lembrando o Plano de Ação para a Economia Circular – “principal alicerce do Pacto Ecológico Europeu”, lançado pela Comissão Europeia em 2020 – e a redefinição da composição do grupo de coordenação a nível internacional, que passou a contar com a participação de 18 entidades públicas, o presidente da CIP lamenta a falta de participação de representantes das empresas: “Seria uma forma de assegurar que as políticas a implementar neste âmbito são aquelas de que as empresas carecem ou, pelo menos, procurar uma melhor adesão das medidas às necessidades e realidades das empresas. Lamentavelmente, temos aqui um sinal da onipresença exclusiva do Estado no labirinto das entidades em que se organiza (“ou que desorganiza”)”, considera o responsável.
Com base nesta realidade, a CIP lançou, em 2021, o Projeto E+C (Economia Mais Circular), com o objetivo de fazer um levantamento do estado da arte da economia circular em Portugal, identificando as boas práticas já adotadas e os projetos em curso, bem como estimular a adoção de uma metodologia de medição da circularidade nas empresas portuguesas amplamente testadas a nível internacional. Ao abrigo deste projeto, foram promovidas várias ações nacionais que contemplaram um ciclo de webinars e o lançamento dum guia de boas práticas.