Organizado bienalmente pela Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas (APDA), o Encontro Nacional de Entidades Gestoras de Água e Saneamento (ENEG) está de volta. Entre os dias 23 e 26 de novembro, o Tivoli Marina Vilamoura – Centro de Congressos do Algarve será o palco daquele que é o maior evento do setor em Portugal. A Ambiente Magazine esteve à conversa com José Moura de Campos, presidente da Comissão Organizadora do ENEG 2021, que nos conta em “primeira-mão” os principais highlights desta edição.
- Faça uma pequena contextualização do ENEG?
O ENEG constitui-se como o maior evento do setor da Água em Portugal, reunindo, num único lugar e por um curto período de tempo, os diversos profissionais do setor, bem como todos os interessados no mesmo. Marcam presença altas figuras, entidades e empresas, que, por sua vez, partilham conhecimento, experiências e perspetivas sempre em prol de um setor que se pretende mais eficiente e sustentável. A cada ENEG realizado (desde 2001), o balanço é mais positivo e com repercussões visíveis a nível de trabalho e desenvolvimento do setor. O programa da edição de 2021 do ENEG, cujo tema principal é “Dificuldades na Gestão da Água e a Emergência Climática: Mudanças Necessárias”, integra comunicações livres, mesas-redondas, palestras com especialistas nacionais e internacionais, visitas técnicas e culturais, os encontros empresariais e a tão aclamada exposição. De sublinhar também a atribuição dos Prémios APDA – Tubos de Ouro, bem como o Pipe Contest – Campeonato Nacional de Montagem de Ramais em Carga.
- Qual é o papel da APDA? E qual o seu objetivo?
A APDA é a responsável por toda a organização e dinamização do evento, que é realizado a cada dois anos. A Associação aposta, desta forma, na discussão dos mais prementes problemas que se colocam ao setor da água, com vista à procura e antecipação das soluções para os atuais e futuros desafios. Esta condição tem vindo a ser reforçada pelo relevante contributo que a APDA tem alcançado em domínios como o tratamento, investigação e desenvolvimento dos assuntos relacionados com a quantidade e qualidade das águas de abastecimento, drenagem, tratamento e destino final das águas residuais, bem como nas iniciativas relevantes que garantam a sua sustentabilidade técnica, económica, social e ambiental. Para tal, a Associação conta com o trabalho exímio de 13 Comissões Especializadas, que exploram as mais diversas áreas em consonância com a formação de cada um dos elementos que as compõem. A APDA conta também com um Núcleo de Jovens Profissionais da Água, que contribui para a aprendizagem e interesse da camada mais jovem interveniente no setor. De destacar o facto de Sua Excelência o Senhor Presidente da República ter distinguido, uma vez mais, o ENEG com o seu Alto Patrocínio, bem como ter aceitado presidir à respetiva Comissão de Honra. Também à semelhança da edição anterior, presidem as Sessões de Abertura e de Encerramento, respetivamente, Sua Excelência o Ministro do Ambiente e da Acão Climática e a Senhora Secretária de Estado do Ambiente. Tais representações robustecem a relevância conseguida por este evento da APDA e o significativo papel que esta representa no panorama nacional.
- Que balanço já́ é possível fazer sobre os expositores, oradores e conferências?
O balanço até à data não podia ser mais gratificante. O nível de participação e de procura que se tem verificado, na apresentação de propostas de comunicações livres, na aquisição de lugares para a exposição – a maior feira de equipamentos e serviços do setor, aberta a todos os seus profissionais e que decorre em paralelo -, e o elevado nível profissional, técnico-científico e institucional dos moderadores e oradores já confirmados para as sete mesas-redondas e debate, anteveem uma edição com o sucesso e a qualidade a que a APDA já habituou o setor.
- A edição 2021 do ENEG vai decorrer em que formato?
O ENEG 2021 vai decorrer em formato presencial, entre os dias 23 e 26 de novembro, no Tivoli Marina Vilamoura – Centro de Congressos do Algarve. A região escolhida para a realização desta edição está em linha com a política de descentralização nacional que a APDA tem seguido na organização de eventos. Recorde-se que, em 2019, o certame decorreu em Ílhavo, e, em 2017, em Évora. A componente digital também está contemplada, mas numa ótica dos participantes – através de uma app vão ser disponibilizados os detalhes do programa, bem como os conteúdos das comunicações, ou seja, toda a informação à distância de uma mera interação com o telemóvel. Além disso, também existe um website dedicado ao evento que, em conjunto com o da APDA e respetivas redes sociais, cobre os acontecimentos mais marcantes do ENEG 2021. Posso ainda adiantar que a tecnologia com vista a uma disseminação da informação mais rápida e efetiva não vai ficar por aqui.
- Que novidades já podem ser reveladas acerca desta edição?
Para além da já referida participação de membros do Governo, esta edição vai contar com diversas comunicações, distribuídas por doze temas, sete mesas-redondas, dedicadas ao valor da água, economia circular e descarbonização, perdas de água, cliente, gestão de recursos humanos, o setor no futuro e, como não podia deixar de ser, o PENSAARP 2030 – Plano Estratégico para o Setor de Abastecimento de Água e Gestão de Águas Residuais e Pluviais. O grande debate compartilha o tema do evento: “Dificuldades na Gestão da Água e a Emergência Climática: Mudanças Necessárias”. Os Prémios APDA – Tubos de Ouro vão ser atribuídos pela décima vez, distinguindo projetos relacionados com a adaptação às alterações climáticas, comunicação do valor da água, serviço ao cliente, investigação e desenvolvimento, e sustentabilidade. O Pipe Contest, que consiste no Campeonato Nacional de Montagem de Ramais em Carga, vai também para a décima edição, comprovando que o espírito de equipa e a competição saudável são uma mais-valia no setor. No que diz respeito à exposição, o destaque vai para o facto de ser exclusivamente indoor, promovendo uma maior mobilidade para quem assiste às sessões e não quer perder as novidades no que aos equipamentos e serviços do setor diz respeito. Também os encontros empresariais vão ter uma nova dinâmica, criando mais oportunidades para parcerias e projetos. Todas estas premissas anteveem mais um ENEG de sucesso.
- Este ano qual vai ser o tema central do evento? E que mensagem querem transmitir?
Não obstante à realidade a que o mundo está a assistir cada vez mais frequentemente, com fenómenos extremos que resultam das alterações climáticas, o tema principal a explorar vai ser as “Dificuldades na Gestão da Água e a Emergência Climática: Mudanças Necessárias”. Mais do que a ameaça do que pode acontecer no futuro, as consequências das alterações climáticas já se fazem sentir, e o setor da água, tratando um recurso escasso e vital à humanidade, tem de se precaver ao invés de se limitar a reagir, uma vez que as medidas pontuais e a curto prazo são mais dispendiosas e menos eficazes. As alterações climáticas são atualmente o maior desafio que o setor enfrenta. Nesse sentido, e perante a incerteza do futuro, é crucial que se invista nos serviços de água e saneamento e que se avance com medidas eficientes, a médio e longo prazo, a diversos níveis: económico-financeiro, tecnológico, ambiental e, principalmente, na gestão de ativos. Entretanto, e uma vez que atua em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) – designadamente os referentes à “garantia de água potável e saneamento para todos” (ODS 6), “proteção do ambiente e procura da sustentabilidade nas cidades” (ODS 11) e ao “combate às alterações climáticas” (ODS 13) – a APDA procura com os ENEG desenvolver conhecimento, conduzindo a práticas que possam contribuir para a real concretização dos ODS e, assim, alcançar a eficiência hídrica.
- Depois de mais um ano atípico, que aprendizagens foram tidas em conta para a realização desta edição?
Não há dúvida que a pandemia de COVID-19 causou incertezas e receios quanto à realização do ENEG 2021, mas a verdade é que a organização permaneceu confiante na sua exequibilidade. Destaco a resiliência e o respeito não só pelas diretrizes da Direção-Geral da Saúde e do Governo, mas, principalmente, o respeito pelo próximo. Este quadro define, aliás, o comportamento do setor perante a pandemia, com milhares de profissionais a trabalharem diariamente para que os serviços essenciais, como são a água e o saneamento, não faltassem a ninguém. À Comissão Organizadora também ocorreu a verdadeira consciencialização da dimensão do ENEG e da importância de este continuar a ser essencialmente um evento presencial. Por muito que a componente tecnológica cresça a cada edição, e que isso enriqueça indubitavelmente o evento, nada igualiza a interação humana física. O ENEG 2021 vai decorrer com todas as normas de segurança e saúde pública vigentes, pelo que a organização, para além de um trabalho solidamente prévio neste âmbito, continua atenta a qualquer alteração para salvaguardar a concretização deste certame tão ambicionado pelo setor. Assim, fica também a versatilidade como uma das aprendizagens desta edição.
- Por que motivo o ENEG se realiza de dois em dois anos?
A realização de um evento como o ENEG envolve uma carga logística muito significativa, a todos os níveis. Por outro lado, pretende-se que a discussão dos diversos temas em debate nos ENEG acrescente valor, e não seja apenas mais um evento que se realiza periodicamente. Acresce ainda que a participação ativa de centenas de profissionais do setor, que partilham projetos, ideias e conhecimento, através das comunicações que apresentam nos ENEG, dificilmente seria viável no contexto de um evento anual. Mais do que a periodicidade do ENEG, aquilo que verdadeiramente nos importa é o contributo que este evento dá para a discussão e reflexão em torno das questões estruturantes para o setor e, por essa via, para o desenvolvimento do mesmo.
- O ENEG já conseguiu conquistar o objetivo de ser o principal evento em Portugal deste âmbito? E a nível internacional já tem um lugar de destaque?
Os números não mentem e a verdade é que cada ENEG realizado tem superado a edição anterior. Acresce o feedback positivo dos participantes e dos expositores, que criam de imediato expetativas para o evento a realizar daí a dois anos, como também a procura de informação cada vez mais precoce junto da APDA. A conclusão é clara e irrefutável: os ENEG transformaram- se nos maiores Congressos Nacionais do Abastecimento de Água e Saneamento em Portugal. Já a nível internacional, o caminho tem vindo a ser traçado passo a passo. Para além da divulgação do evento junto das mais distintas entidades do setor a nível mundial – como o World Water Council e a EurEau (das quais a APDA é membro e onde participa ativamente) -, os especialistas de outros países têm conquistado mais espaço de intervenção nas sessões, trazendo conhecimento e levando a experiência portuguesa além-fronteiras. Também através da exposição, tratando-se muitas vezes da afluência de empresas estrangeiras com representação em Portugal, o mediatismo do ENEG tem crescido, traduzindo-se em contactos posteriores que contribuem para uma posição internacional mais sólida no futuro.
- Que outras ambições podem ser partilhadas para o ENEG 2021?
Tal como já foi mencionado, as sucessivas edições do ENEG têm vindo a superar as anteriores. Assim sendo, e apesar do contexto extraordinário que ainda vivemos, a ambição para esta edição do ENEG não poderia ser outra: incrementar o número de comunicações, de participantes e de expositores. Mas, para além da quantidade, acreditamos convictamente que, também em matéria de qualidade, o nível deste ENEG será de excelência! Sabemos que estes são objetivos ambiciosos, mas o empenho e a motivação com que todos os envolvidos na organização têm trabalhado em prol deste evento dá-nos a confiança de que poderemos alcançar estes objetivos.
- A importância de debater a “água” cresceu com a pandemia? Que desafios (atuais) enfrenta este setor?
Mais do que contribuir para a importância de colocar a água no topo da agenda política, a pandemia exacerbou essa necessidade. Como recurso vital que é, a água foi, é e será fundamental no combate ao SARS-CoV-2 ou a qualquer outro tipo vírus. É uma questão de saúde pública. Portanto, há que direcionar as atenções para este setor que, para além das alterações climáticas, tem como maiores fragilidades: ativos antigos, perdas de água e água não faturada, sustentabilidade económico-financeira dos serviços e, talvez a que precisa de ser mais trabalhada, a atribuição e o reconhecimento do verdadeiro Valor da água por toda a sociedade. De frisar, entretanto, que as contingências da pandemia de COVID-19 contribuíram para a aceleração da transformação digital dentro das Entidades Gestoras de água e saneamento, o que alavancou uma nova era, há muito necessária, e que, sem dúvida, poderá fazer a diferença na busca da eficiência transversal do setor.
- Como é que se encontra Portugal nestas matérias?
Muitos dos desafios e fragilidades que o setor enfrenta não são, antes pelo contrário, um exclusivo do nosso país. Em Portugal, se é verdade que existe ainda um longo caminho a percorrer, não podemos, nem devemos, menosprezar o que já foi conseguido. As Entidades Gestoras, de uma forma geral, têm-se empenhado em resolver questões e ultrapassar obstáculos que, nalguns casos, têm décadas. Atualmente, talvez o maior desafio seja o de dar continuidade ao esforço de modernização, profissionalização e especialização do setor, preparando-o para enfrentar aquela que será, sem dúvida, a luta mais importante do século XXI: as alterações climáticas. Para se conseguirem adaptar aos seus efeitos e mitigar esses mesmos efeitos, as Entidades Gestoras terão de ser resilientes, flexíveis e capazes de ultrapassar, de forma rápida e eficiente, os obstáculos que lhes vão surgindo no caminho. Só assim conseguiremos atingir aquele que é o objetivo último de qualquer Entidade Gestora: a prestação de um serviço de qualidade, com segurança e a um preço acessível, a todos os cidadãos e, dessa forma, contribuir para um mundo mais justo e mais sustentável.