“A economia azul deve assumir um papel predominante na educação, investigação e inovação durante a próxima década. Essa é uma estratégia e compromisso do Politécnico de Leiria, incluídos no plano estratégico 2020/2030 da nossa instituição, e que encaixa perfeitamente na Estratégia Nacional para o Mar para o período 2021/2030. Esta estratégia sublinha a importância da economia azul, associada à segurança alimentar, à valorização da sustentabilidade dos recursos marítimos, com a aquacultura, a biotecnologia marinha, entre outras atividades com impacto em vários setores”. A declaração é de Rui Pedrosa, presidente do Politécnico de Leiria, durante a abertura da conferência internacional “Do Mar à Sociedade”, realizada na passada terça-feira, dia 25 de maio.
Promovida em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e o Ministério do Mar, a conferência internacional foi organizada sob a Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, e reuniu diversos especialistas, investigadores e atores da economia azul, para uma partilha e valorização de conhecimento e tecnologia para a sustentabilidade, valorização dos recursos marinhos e para o desenvolvimento socioeconómico das comunidades costeiras, lê-se num comunicado divulgado pelo Politécnico de Leiria.
O presidente destacou ainda o “grande investimento” que o Politécnico de Leiria fez nos últimos 20 anos, como a construção da Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar (ESTM), com mais de 1.600 estudantes em vários cursos das áreas do Turismo, Sustentabilidade, Hospitalidade, Gastronomia, Biologia Marinha, Biotecnologia Marinha, Engenharia dos Alimentos e Aquacultura: “E este ano vamos ter um novo e pioneiro mestrado em Economia Azul e Circular”, realçou o presidente, destacando ainda a “criação da estrutura científica Cetemares e a cocriação do Smart Ocean, um parque de Ciência e Tecnologia, em parceria com o município de Peniche”.
Rui Pedrosa sublinhou o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido na Universidade Europeia RUN-EU, liderada pelo Politécnico de Leiria, onde, além das estratégias principais associadas à criação de programas conjuntos de licenciaturas, mestrados e doutoramentos a nível europeu, programas avançados de curta duração, e o programa RUN-EU Discovery, foi proposta a cocriação de três hubs de inovação europeus, incluindo o hub de bioeconomia.
“Com esta conferência pretendemos destacar uma forte ideia que ficou ainda mais visível durante este contexto pandémico, que a ciência e o conhecimento são globais, sem barreiras e completamente dependentes de redes nacionais e internacionais, com mais e mais contributos multidisciplinares, em contextos de cocriação. Apenas com redes globais de ciência e conhecimento vai ser possível ultrapassar os desafios globais que enfrentamos atualmente, como as alterações climáticas”, declarou.
[blockquote style=”2″]Uma bioeconomia sustentável, circular e inclusiva vai beneficiar os oceanos[/blockquote]
A representar o Ministério do Mar esteve a diretora-geral da Política do Mar, Helena Vieira, que começou por citar o primeiro-ministro António Costa, ao afirmar: “Outros deram prioridade à lua e a Marte, mas a Europa tem que abraçar os oceanos como uma causa e uma missão”. Focando-se na Estratégia Nacional para o Mar para o período 2021/2030, Helena Vieira defende que “uma bioeconomia sustentável, circular e inclusiva vai beneficiar os oceanos. Mas apenas é possível se for baseada nos fundamentos de um oceano saudável. Precisamos de mudar o nosso comportamento e as nossas políticas para travar a degradação do ecossistema marinho e desenvolver um ecossistema económico que seja simultaneamente sustentável e competitivo”.
Esta nova estratégia nacional para o Mar coloca, por isso, “a saúde do nosso oceano como uma necessidade básica, para a qual o desenvolvimento tecnológico e a investigação científica são colocados no centro do processo de decisão. Este documento representa a principal referência para as políticas portuguesas relacionadas com o oceano durante os próximos 10 anos, onde a ciência e a tecnologia estão em destaque”, destacou a diretora-geral da Política do Mar, apontando a criação do “Hub Azul”. De acordo com a responsável, “este hub vai permitir uma economia tecnológica, verde e azul, com um claro foco na proteção da biodiversidade. No polo de Peniche do Hub Azul, por exemplo, o investimento vai focar-se em desenvolver o Smart Ocean, para reforçar a sua capacidade para suportar e apoiar startups, mas também projetos para melhorar instalações locais de realização de testes no oceano e ainda reforçar a relação com a comunidade local, que está fortemente ligada ao mar nesta região. Vai ser uma boa representação de como o oceano, ciência e tecnologia podem impulsionar o desenvolvimento local, regional e nacional”.
[blockquote style=”2″]Continuar o nosso crescimento e expandir estas atividades, através da criação de hubs e outros portos de pesca[/blockquote]
Por sua vez, o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, começou por alertar que “a deposição de plástico no fundo do oceano tornou-se num dos assuntos mais críticos associados com as alterações climáticas. Precisamos de cuidar dos oceanos. Não há mais tempo para nos esquecermos disso. Os oceanos tornaram-se um elemento crítico no nosso desenvolvimento sustentável e no nosso futuro comum”, reforçou
Para Manuel Heitor, há “três grandes assuntos” a ter em atenção: “O primeiro é conhecimento novo. Precisamos de fazer mais pesquisa sobre como atingir a sustentabilidade da economia azul, sobretudo em termos de conhecimento transdisciplinar para melhor compreender a relação entre os oceanos e a ciência climática, mas também como podemos aumentar a sustentabilidade dos oceanos. Em segundo lugar, é necessário olhar para novas formas de colaboração entre os setores público e privado, entre investigação e instituições académicas, tudo isto numa ação coletiva. Por fim, sabemos que precisamos de mais métodos de observação e de usar as oportunidades da digitalização da nossa sociedade, através da utilização de sensores e satélites”.
Coube a Carlos Figueiredo, administrador da Docapesca – Portos e Lotas, fazer a sessão de encerramento conferência: “Tendo uma posição crítica na nossa comunidade costeira, os portos de pesca portugueses são clusters de uma tradicional indústria do oceano e atividades emergentes que providenciam um potencial para a inovação e desenvolvimento”. E o centro Smart Ocean, do qual a Docapesca é um membro fundador, é, na visão do responsável, “um grande exemplo de como várias atividades se podem juntar na área do porto de pesca. Vai ser uma âncora de desenvolvimento e melhoria do potencial de novas empresas para o negócio do peixe”.
De acordo com Carlos Figueiredo, “vemos os portos de pesca como instrumentos que se relacionam com os lugares e cidades onde estão localizados, polos de inovação e tecnologia do futuro, autossustentáveis e capazes de atrair investimento e capital humano. O nosso objetivo para o futuro é continuar o nosso crescimento e expandir estas atividades, através da criação de hubs e outros portos de pesca. Manter o equilíbrio entre os três pilares da sustentabilidade tem sido uma preocupação da Docapesca nos últimos anos”.
[blockquote style=”2″]Sabemos da importância da indústria azul e da inovação[/blockquote]
Já o vice-presidente da Câmara Municipal de Peniche, Mark Ministro, destacou que «Peniche está a trabalhar fortemente para garantir uma herança do oceano e criar um legado enquanto destino para um futuro azul e sustentável”. E são vários os fatores que contribuem para esta visão: “Somos abençoados pela nossa localização geográfica, rodeada pela natureza. Além disso, na história de Peniche há um antes e depois da ESTM. Passaram-se 20 anos desde a criação da Escola e a vida em Peniche mudou significativamente, sendo que continuamos a desenvolver-nos com a presença da ESTM (Escola Superior Turismo e Tecnologia do Mar) neste território”.
Além do mais, continua o vice-presidente da autarquia, “quem imaginaria que hoje Peniche aspirava ser uma referência internacional em termos de conhecimento sobre o oceano e uma economia azul e sustentável? Isto é algo que seria inimaginável há 20 anos. O Politécnico de Leiria e a ESTM desafiaram a comunidade a seguir em frente e a desenvolver-se. Conhecimento, tecnologia, inovação, economia azul, economia circular e economia sustentável são palavras-chave que hoje estão bem presentes em Peniche”.
A encerrar a conferência, Paulo Almeida, diretor da ESTM, enfatizou a importância que o conhecimento e a tecnologia assumem na gestão e exploração dos recursos marinhos: “Sabemos da importância da indústria azul e da inovação, e o poder das parcerias entre ciência e sociedade. Queremos promover a sustentabilidade da relação entre os humanos e o ecossistema marinho, pois é uma responsabilidade que temos para as próximas gerações”, destacou.
No âmbito da conferência internacional “Do Mar à Sociedade”, a ESTM acolheu ainda algumas iniciativas culturais durante toda a tarde, nomeadamente um show cooking que ilustrou a gastronomia europeia com base nos recursos do mar, uma visita guiada à exposição fotográfica sobre os oceanos, intitulada “Mãe Nossa”, o relançamento do livro “Do Mar ao Prato”, editado em 2016 e que agora apresenta uma versão bilingue, e a inauguração da exposição “Ilha”.