As alterações climáticas são reais. Mas qual a melhor forma de mitigar os impactos negativos esperados nos mercados de trabalho e transformá-los em oportunidades para o futuro? A resposta reside nas competências e na requalificação. Esta é uma das conclusões do estudo “Competências para a Economia Verde“, realizado e partilhado em comunicado pelo Grupo Adecco que indica “como as competências podem impulsionar a transição para uma economia mais sustentável, tão urgente e necessária”, e “delineia ações que podem e devem ser tomadas para mitigar os impactos negativos nos mercados de trabalho”.
Para assegurar que a Transição Verde seja um sucesso, o estudo dá conta da necessidade de se prestar mais atenção ao papel que o capital humano e as competências desempenham na concretização de uma mudança sustentável: “As competências e o seu potencial são frequentemente negligenciadas na conceção de estratégias nacionais, em detrimento das empresas e dos trabalhadores”. Sem o desenvolvimento de competências, estima-se que a “economia global poderia perder até 71 milhões de postos de trabalho no seu movimento para se tornar circular”. Por outro lado, “políticas inteligentes e investimento, na requalificação poderiam inverter esta perspetiva, de tal forma que só o setor energético poderia produzir um crescimento líquido de 18 milhões de postos de trabalho”, refere o estudo.
Desta forma, qualquer estratégia de transição bem-sucedida terá que ter em conta:
- Mais de 1,47 mil milhões de empregos a nível mundial dependem de um clima estável, e que cerca de 85% de todos os empregos em 2030 ainda não foram inventados. O espaço para o desenvolvimento de competências não pode ser subestimado;
- Ao eliminar gradualmente os combustíveis fósseis, alguns setores serão mais afetados do que outros, particularmente as indústrias energética e automóvel;
- Os consumidores mudarão o seu comportamento e as empresas terão de oferecer soluções social e ambientalmente sustentáveis para se tornarem prova de futuro;
- Haverá uma mudança no sentido de produzir produtos mais sustentáveis e de oferecer serviços para prolongar a sua vida útil.
Para fazer face aos desafios, o estudo indica que os Governos terão de elaborar as suas políticas tendo em consideração: “as mudanças nas indústrias ocorrerão em diferentes geografias em diferentes momentos. Embora a perda de empregos possa ser instantânea, a criação de empregos será mais gradual. Para o efeito, os governos terão de proteger os trabalhadores e não os empregos”; “nem todos os empregos reaparecerão automaticamente nas mesmas indústrias em que foram perdidos. É por isso que é crucial manter a mobilidade e a flexibilidade do mercado de trabalho”; “o investimento na força de trabalho não deve ser considerado um custo – em vez disso, o investimento no desenvolvimento da força de trabalho deve ser amortizável”.
Oportunidades da transição verde
Embora estes desafios não sejam fáceis de enfrentar, quando abordados adequadamente, podem conduzir a numerosas oportunidades para governos, empresas e indivíduos, destaca o estudo. Assim, em termos mais gerais, políticas verdes inteligentes podem conduzir a “mão-de-obra mais qualificada e ‘à prova de futuro’; mercados de trabalho funcionais com sistemas educativos sofisticados; ou sistemas de proteção social inclusivos”, refere o comunicado.
As empresas, como entidades empregadoras, embora beneficiando das políticas verdes dos governos, devem ser eles próprios proativos, devendo por isso,”cartografar os requisitos de aptidões e requalificação” para se anteciparem; “fazer do emprego sustentável e do investimento em competências a sua vantagem de marca para atrair os talentos certos e reter as competências certas” para o sucesso futuro; “promover outras formas de aprendizagem VET (Vocational Educational Training – Formação Profissional), nomeadamente em ambiente de trabalho para construir a sua própria reserva de talento”; promover a “flexibilidade e alavancar a perícia da força de trabalho”, colocando o indivíduo no centro da transformação.
Por seu turno, os indivíduos devem ser “proativos e apropriarem-se do seu próprio conjunto de competências”, procurando continuamente oportunidades de qualificação; “abraçar a flexibilidade da carreira” e “compreender que as suas competências têm um prazo de expiração e que a aprendizagem ao longo da vida é um pré-requisito para melhorar a empregabilidade futura de cada um”, lê-se no comunicado do Grupo Adecco.
Mas, a qualificação e a Transição Verde não são uma via de sentido único. Ou seja: “Por um lado, a economia verde e a transição para um futuro mais sustentável terão, sem dúvida, impacto na procura de competências no mercado de trabalho; por outro lado, é importante notar que sem as competências, qualquer progresso no sentido da transição verde seria impossível de começar, As competências e a Economia Verde moldam-se uma à outra”. E ao abraçar o investimento em competências, todos os intervenientes podem contribuir para assegurar que a transição para a economia verde seja justa e que ninguém fique para trás: “É por isso que é essencial para todos os interessados, incluindo governos, empresas e trabalhadores, colaborar num Novo Contrato Social e garantir que avançamos juntos – rumo a um futuro que funcione para todos”, defende o Grupo.