“Ser uma infraestrutura comum capaz de promover uma investigação e inovação de excelência que responda às necessidades do setor empresarial de toda a Euro-Região e que permita alavancar o aumento dos níveis de competitividade industrial e a diminuição da taxa de desemprego, numa clara abordagem à economia circular e à simbiose industrial, com claros benefícios para a resiliência do território do Norte de Portugal e da Galiza”. Esta é a missão do projeto VALORNATURE, do qual o PIEP (Polo de Inovação em Engenharia de Polímeros), Interface Tecnológico da Universidade do Minho, é o promotor-líder.
À Ambiente Magazine, Bruno Pereira, diretor de projeto do PIEP, afirma que o Projeto VALORNATURE (Centro de Excelência em Materiais Sustentáveis para o Aproveitamento dos Recursos Endógenos do Norte de Portugal e da Galiza) pretende contribuir para o “aparecimento de novas dinâmicas de cooperação” orientadas para a “criação de novos conhecimentos” em domínios como o “aproveitamento e valorização do potencial dos recursos e resíduos naturais e o desenvolvimento de produtos com um impacto ambiental reduzido”, assegurando a transferência deste conhecimento para o tecido empresarial da Euro-Região.
De forma a que o projeto consiga cumprir todos os objetivos, como o da “construção de uma base de conhecimento comum capaz de consolidar competências”, Bruno Pereira explica que a utilização da ferramenta “Life Cycle Assessment” é fundamental no apoio à “tomada de decisão”, uma vez que será possível “realizar a quantificação dos impactos ambientais de todo o ciclo de vida dos novos produtos eco sustentáveis produzidos no âmbito do projeto”. E aqui, o Ecodesign será utilizado no “desenvolvimento dos novos produtos” enquanto “Key Performance Indicator”, permitindo utilizar esta metodologia como “fator de mudança” para a sustentabilidade, refere.
No que diz respeito às mais-valias deste projeto, o responsável enfatiza o facto de ter permitido desenvolver um “conjunto de valências”, destacando-se o “conhecimento de base referente aos recursos endógenos e a sua valorização na produção de produtos sustentáveis e de valor acrescentado” e a “criação de um ecossistema de inovação”, representado pelos atores da Euro-Região como empresas, universidades, centros de investigação e associações empresariais, onde foi possível aumentar o nível de cooperação entre os mesmos. Além disso, a partir do projeto, foi possível “efetivar a capitalização do know-how e dos equipamentos existentes nas infraestruturas de I&D+I do consórcio”, contribuindo, desse modo, para a “afirmação das mesmas enquanto entidades de referência internacional no domínio da investigação e inovação de materiais sustentáveis”. Pela sua “diferenciação, dinâmica e envolvência”, o projeto permitiu ainda a “qualificação e formação de recursos humanos da Euro-Região, permitindo dotar as empresas de recursos altamente qualificados e diferenciados nesta área de atuação”, sustenta.
[blockquote style=”2″]É necessário que o “ecológico” deixe de ser um “suplemento”[/blockquote]
Questionado sobre o papel do “ecodesign” no desenvolvimento de produtos e sistemas, Bruno Pereira explica que tem um papel preponderante no desenvolvimento de produtos, sistemas e mesmo de serviços: “Trata-se de uma abordagem que integra um conjunto de indicadores de performance que, até há muito pouco tempo, eram relegados para segundo plano devido à sua importância reduzida”. Atualmente, de acordo com o responsável, “muitos produtos, marcas, públicos e, mesmo, alguma legislação obrigam-nos a olhar para o Ecodesign como sendo um Key Performance Indicator que se pode mesmo sobrepor a questões de custo que, tradicionalmente, seriam o indicador mais preponderante na tomada de decisão”. Desta forma, questões como o “uso racional de matérias primas”, o “uso de matérias primas mais amigas do ambiente” ou a “reciclabilidade” serão fatores com “importância crescente que, certamente, mudarão o paradigma do que é o desenvolvimento de produtos e sistemas”, refere. Também a Biomimética assume um papel preponderante nestas matérias: “Permite a resolução de determinados problemas de forma pragmática e funcional, utilizando soluções já existentes na natureza, sendo possível aplicar soluções muito otimizadas e testadas pelos processos evolutivos da natureza e aplicá-las a produtos, sistemas e serviços”, destaca.
Relativamente a desafios do ecodesign, Bruno Pereira aponta o “status quo” instalado e a “mudança de pensamento necessária para que a disciplina seja encarada de forma séria e tenha resultados efetivos”. Para isso, é necessário que o “ecológico” deixe de ser um “suplemento que determinados produtos têm, quase como estratégia de marketing, e passe a ser um fator de diferenciação positiva”, vinca. O diretor de projeto do PIEP defende que o Ecodesign seja encarado como um dos “principais objetivos dos produtos, com a confiança de que no futuro apenas produtos e serviços que o façam serão viáveis e lucrativos”. E a grande oportunidade reside precisamente no “resultado de se conseguir vencer o desafio de encarar o ecodesign e a economia circular como um pilar” do desenvolvimento: “Ao fazê-lo, as empresas vão conseguir melhores produtos, melhor uso de matérias primas, maior respeito pelo ambiente e, em última análise, uma existência mais sustentável e resiliente”, determina.
[blockquote style=”1″]O que é que desejam para o futuro?[/blockquote]
Tendo como base os resultados obtidos no âmbito do projeto, hoje é possível ambicionar que o VALORNATURE se possa transformar numa verdadeira Infraestrutura de referência de Economia Circular na Euro-Região, onde a valorização dos recursos e resíduos endógenos do Norte de Portugal e da Galiza seja capaz de alavancar o aumento dos níveis de competitividade industrial, a diminuição da taxa de desemprego, e o desenvolvimento de um território mais resiliente. Assim, pretendemos, no futuro, a construção do Centro de Inovação e Transferência de Tecnologia para a Economia Circular VALORNATURE, envolvendo todos atores de referência da Euro-região, e alicerçar a sua sustentabilidade em dois vetores estratégicos, nomeadamente ao nível da dinamização de projetos de investigação, desenvolvimento e Inovação e da promoção do empreendedorismo, inteligência e formação, fundamentais para a resposta às necessidades da transição de uma sociedade linear para uma sociedade circular na Euro-Região do Norte de Portugal e da Galiza.
Promovido e apoiado no âmbito do POCTEP (Programa Operacional de Cooperação Transfronteiriça Espanha-Portugal), o Projeto VALORNATURE tem um investimento global de 2.38 milhões de euros. O PIEP, enquanto promotor-líder do Projeto VALORNATURE, tem como parceiros o CTAG – Centro Tecnológico de Automoción de Galicia e a XERA – Axencia da Indústria Florestal da Xunta de Galicia.