O hidrogénio verde é uma das grandes apostas para o clima. Esta tem sido a posição adotada quer pelo Ministério do Ambiente e da Ação Climática quer pelas entidades europeias no processo cada vez mais necessário da descarbonização económica. Portugal comprometeu-se com o objetivo de neutralidade carbónica até 2050 e, nesse âmbito, vários projetos que envolvem hidrogénio verde estão em marcha. Um desses projetos, o “H2Enable – The Hydrogen Way for Our Chemical Future (H2Enable), partiu da portuguesa Bondalti Chemicals e a Ambiente Magazine foi conhecer no que consiste esta iniciativa e qual o seu papel rumo à descarbonização do país.
Em entrevista exclusiva, Luís Delgado, administrador da Bondalti, revela que o projeto visa impulsionar um “processo transformacional” da empresa e da indústria química nacional, dando um “importante contributo” para os desígnios europeus da “descarbonização” e da “reindustrialização”, assentando em “tecnologias avançadas, inteligentes e eficientes”, de “baixo impacto ambiental”, de “orientação para produtos mais qualificados e de maior valor acrescentado e de “princípios de circularidade”. O projeto reflete assim a visão da Bondalti para o hidrogénio verde e de uma “indústria química futura” assente em “princípios de sustentabilidade” e de “atuação responsável”. Segundo o responsável, o “H2Enable” tem como ponto de partida as “competências” que a Bondalti detém na “produção” e “aplicação de hidrogénio” como a “eletrólise do sal, eletrólise do ácido clorídrico, incorporação do hidrogénio na produção de anilina” e de “amoníaco na sua cadeia de produção” como a “produção de ácido nítrico. Para além da produção de hidrogénio verde, o projeto prevê a “instalação de produção de energia elétrica” através de “fontes renováveis” (solar e eólica) e da “produção de amoníaco verde”. Neste momento, a Bondalti e os seus parceiros encontram-se a “detalhar a estrutura” do projeto, sendo “prematuro” avançar com “valores de investimento”, adianta o administrador.
Bondalti tem “condições singulares” para ser um “player nuclear” na “futura cadeia de valor” do hidrogénio verde nacional
Quanto a objetivos, Luís Delgado não tem dúvidas de que o “H2Enable” vai contribuir para a “descarbonização” das empresas pertencentes ao Complexo Químico de Estarreja e vai permitir “criar um Pólo de desenvolvimento e distribuição de hidrogénio verde” e “produtos derivados na região Centro e Norte de Portugal”. Além disso, o projeto vai também “contribuir para a Estratégia Nacional para o Hidrogénio Verde” e, ao mesmo tempo, “criar oportunidades de desenvolvimento local”, incluindo “criação de emprego especializado”, acrescenta.
Para além do “forte know-how” em “competências estratégicas” na cadeia de valor do “hidrogénio”, em “I&D e inovação” e na “capacidade instalada”, que permite executar projetos na área, a Bondalti decidiu envolver-se no projeto porque tem “objetivos bastante ambiciosos” no que diz respeito à “redução de emissões” e à “descarbonização” das suas atividades. Depois, precisa o responsável, a empresa tem “condições singulares” para ser uma “referência nacional e internacional” na “produção e aplicação do hidrogénio verde” e um “player nuclear” na futura cadeia de valor do hidrogénio verde nacional, quer em termos “transformacionais” quer em termos “produtivos”.
A escolha de Estarreja tem que ver como o facto do seu Complexo Químico ser o “site químico nacional mais desenvolvido” na cadeia de valor do hidrogénio: “Aproximar os locais de produção e de consumo é fundamental para reduzir o investimento e os custos de operação deste projeto”. Além disso, a “existência” de “know-how em processos químicos únicos no país”, de “infraestruturas industriais”, do “acesso ao mar (essencial para exportação) através do porto de Aveiro” e uma “situação geográfica também única para servir o Centro e Norte de Portugal e o Norte de Espanha”, bem como a “proximidade a outras indústrias potencialmente consumidoras de hidrogénio verde e derivados” torna Estarreja como uma “localização de excelência” para este tipo de iniciativas, reforça.
[blockquote style=”2″]Portugal goza de uma exposição solar única na Europa[/blockquote]
Até à data, o balanço é muito positivo: “O acolhimento que o projeto teve por várias entidades e parceiros ultrapassou em muito as nossas expetativas. Certamente, reconheceram um projeto que pode ser muito relevante para os objetivos nacionais”, afiança. Neste momento, diz o responsável, “estamos a detalhar e reformular alguns aspetos do projeto” para “garantir” a sua “competitividade” e “implementação” a curto prazo.
Luís Delgado considera que o hidrogénio verde será uma “alavanca fundamental” para Portugal atingir os objetivos de descarbonização inscritos no plano nacional. É também uma “oportunidade de negócio” para as empresas portuguesas se posicionarem a nível internacional neste mercado: “Portugal goza de uma exposição solar única na Europa e pode e deve aproveitar este facto para conseguir produzir energia verde muito competitiva”, atenta. Desta forma, acredita o responsável, será possível ter uma “indústria ligada ao hidrogénio verde competitiva a nível internacional” e “posicionar Portugal” como um “player europeu” neste mercado.
*Este artigo foi publicado na edição 86 da Ambiente Magazine.