Um estudo, que inclui o Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c), revela a redescoberta de 17 espécies de plantas antes consideradas extintas. O estudo foi agora publicado na revista científica “Nature Plants”.
“A investigação exigiu um trabalho minucioso de detetive, especialmente para verificar informações, muitas vezes imprecisas, reportadas de uma fonte para outra, sem as devidas verificações”, explica, em comunicado, David Draper, um dos autores do estudo, investigador do cE3c e do Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa.
As 17 espécies agora redescobertas são nativas sobretudo da Bacia do Mediterrâneo, uma região rica em biodiversidade. Três destas espécies foram redescobertas na natureza, através de trabalho de campo, duas foram encontradas preservadas em jardins botânicos europeus e bancos de sementes e as restantes foram reclassificadas através de uma extensa revisão taxonómica.
Para esta descoberta a equipa internacional, liderada por Thomas Abeli e Giulia Albani Rocchetti, investigadores da Universidade Roma Tre (Itália), analisou 36 espécies endémicas europeias cujo estatuto de conservação era considerado “Extinto” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em inglês). A investigação envolveu a monitorização contínua na natureza – envolvendo universidades, museus, jardins botânicos e bancos de sementes – e a aplicação de técnicas avançadas para estudar a variabilidade das espécies, técnicas só possíveis graças aos mais recentes desenvolvimentos taxonómicos, refere, no mesmo comunicado, o cE3c.
Entre as 17 espécies agora redescobertas encontra-se a Armeria arcuata, uma espécie endémica do litoral sudoeste de Portugal que se acredita extinta – os últimos registos datam do final do século XIX. Através deste estudo, os investigadores encontraram que esta espécie parece ter sido inconscientemente preservada no Jardim Botânico da Universidade de Utrecht, na Holanda. Estão agora a ser desenvolvidos estudos genéticos para confirmar a sua redescoberta.
Os investigadores destacam que a redescoberta destas espécies teve lugar numa região bem conhecida e bastante explorada por cientistas e interessados por botânica. Mas deixam um alerta: “A redescoberta destas 17 espécies de plantas é sem dúvida uma boa notícia, mas, por outro lado, não nos podemos esquecer que os resultados confirmam que as restantes 19 espécies que analisámos se perderam para sempre”. Por isso, “é fundamental prevenir extinções – a prevenção é certamente mais viável do que eventuais tentativas de ressuscitar espécies através de material genético, uma área por enquanto puramente teórica e com fortes limites técnicos e tecnológicos”, declara David Draper.
Os investigadores consideram altamente promissores estes resultados, em termos do impacto na conservação das 17 espécies redescobertas. “Graças a estes resultados a Europa ‘recupera’ biodiversidade, um passo importante para atingir as metas internacionais estabelecidas pela Convenção para a Diversidade Biológica e a Agenda 2030 das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável”, destaca o investigador do cE3c.