Desde 2008 que a CSide presta consultoria e desenvolve soluções nas áreas de eficiência energética e energias renováveis. A EnergyRing, plataforma da empresa tecnológica, tem por objetivo reunir comunidades de energia renovável, autoconsumidores individuais e coletivos, fornecedores de serviços e soluções na área do autoconsumo. Recentemente, a empresa anunciou que, através da EnergyRing, pretende dar suporte à implementação de 60 comunidades de energia renovável em Portugal nos próximos dois anos.
Com o intuito de conhecer melhor o serviço da CSide, a Ambiente Magazine entrevistou o CEO da empresa, Francisco Gonçalves, que explica como o projeto se desenvolve.
A EnergyRing surge no âmbito da legislação em vigor sobre o autoconsumo: “Auxiliamos autarquias, particulares e empresas a implementarem projetos de autoconsumo coletivo e de comunidades de energia renovável com os serviços do EnergyRing”. De acordo com o empresário, o projeto suporta a “criação de comunidades de energia renovável”, desde a fase inicial de planeamento até à gestão do projeto em curso. Numa primeira fase, explica o responsável, “prestamos auxílio no planeamento técnico e financeiro do projeto, elaborando um plano de autoconsumo detalhado para cálculo do investimento inicial e do retorno financeiro de todos os participantes”. Após implementação do projeto de autoconsumo, o EnergyRing passa a disponibilizar instrumentos para a “gestão dos projetos em curso”, com “ferramentas de monitorização, faturação e serviços de gestão” para a “operação de comunidades de energia renovável”, acrescenta.
“Planear” e “lançar” um projeto de “autoconsumo coletivo ou uma comunidade de energia renovável”, com “dezenas ou centenas de participantes”, é um processo que, segundo Francisco Gonçalves, exige “algum know-how do ponto de vista técnico, jurídico e financeiro”. Por isso, na fase de planeamento, o EnergyRing tem várias vantagens, auxiliando em serviços como “engenharia eletrotécnica”, nomeadamente na “seleção das tecnologias mais adequadas de produção renovável”, das “melhores localizações para implementação das UPACs” ou no “dimensionamento otimizado da solução, em função dos diagramas de carga. Também auxilia na “consultoria financeira”, designadamente na “conceção do modelo de negócio”, na “definição dos modelos de financiamento mais apropriados”, no “acesso a incentivos disponíveis” ou no “cálculo detalhado das poupanças por participante e do retorno de investimento”, acrescenta. O “suporte no registo e implementação da comunidade”, como, por exemplo, na “orçamentação”, nos “cadernos de encargos”, na “elaboração do regulamento interno” ou no “registo” também é algo em que a plataforma dá uma ajuda.
A nível global, Francisco Gonçalves afirma que as vantagens do EnergyRing decorrem, naturalmente, dos benefícios associados à participação em comunidades de energia renovável. Em particular, precisa o CEO da CSide, a implementação de comunidades de energia renovável permite a “munícipes, particulares e empresas aceder a eletricidade” de produção local “a custos muito económicos”.
O EnergyRing estima que o preço por kWh da energia autoconsumida pode ser cerca de “40% inferior” aos preços praticados pelos comercializadores: “Adicionalmente, os membros de uma comunidade de energia renovável podem beneficiar de isenção total de custos de rede (se ligados por rede interna) ou dos custos de interesse económico geral, durante os primeiros sete anos de participação na comunidade”.
[blockquote style=”2″]Solução financeiramente viável, com vista a concretizar a transição energética[/blockquote]
Francisco Gonçalves assegura que os projetos planeados pelo EnergyRing são “calculados, em detalhe, coeficientes de partilha em função dos diagramas de carga, padrões e níveis de consumo”, de modo a que “a energia produzida pelas unidades de produção seja distribuída por todos os participantes da comunidade, otimizando o autoconsumo e a poupança”. Além disso, são propostos modelos com ou sem investimento inicial por parte dos beneficiários, com “possibilidade de amortização do investimento ao longo do tempo” e com “pagamentos associados ao consumo e poupança de cada participante”, acrescenta.
Deste primeiro ano de atividade, o balanço do EnergyRing é muito positivo: “Notamos com agrado o interesse e entusiasmo manifestados por diversos municípios de norte a sul do país e ilhas, os quais estão determinados em posicionar-se como agentes ativos na transição energética, através da implementação de comunidades de energia renovável”. Francisco Gonçalves revela também que já estão a trabalhar com diversos municípios, no sentido de “implementar comunidades de energia renovável” a nível municipal, com empresas e condomínios.
Relativamente aos municípios, o responsável não tem dúvidas do papel que desempenham no projeto, constatando que têm a capacidade de “dinamizar e angariar membros para participar em comunidades de energia renovável”. Além disso, os municípios detêm diversos edifícios e terrenos passíveis de “albergar unidades de produção para o autoconsumo”, como, por exemplo, “painéis solares ou aerogeradores” que poderão vir a ser “explorados e rentabilizados em condições vantajosas”, refere.
Do ponto de vista do CEO da CSide, as comunidades de energia renovável são importantes na medida em que permitem o “acesso massificado” à energia renovável com preços muito convidativos. Desta forma, as comunidades de energia renovável representam uma “solução financeiramente viável”, com vista a concretizar a “transição energética”. E os “benefícios” decorrentes da implementação de projetos de autoconsumo são, por um lado, económicos, essencialmente no “acesso a eletricidade mais barata”, e, por outro, ambientais, pelo “uso de energia de origem renovável produzida localmente”, reforça.
[blockquote style=”2″]Alterações ao regulamento do autoconsumo vão auxiliar a dinamizar o setor [/blockquote]
Olhando para a realidade portuguesa, o CEO da CSide não tem dúvidas de que as comunidades de energia renovável alteraram profundamente o setor energético e estão, de facto, a tornar-se uma realidade em Portugal. Contudo, “ainda existe muito desconhecimento sobre os diplomas já publicados e a regulamentação técnica específica em vigor”, pelo que a CSide procura colmatar essa falha quando recebe contactos de municípios, empresas e consumidores individuais. Depois, na implementação de comunidades de energia renovável, o responsável reconhece que também existem alguns passos intermédios que obrigam a consultas junto de entidades oficiais que apresentam tempos de resposta excessivamente longos. Por outro lado, algumas questões técnicas específicas “não são esclarecidas pelos regulamentos em vigor de forma inequívoca”, atenta.
Há dois aspetos que a CSide considera muito importantes, dos quais estiveram em discussão em consulta pública pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos: “A possibilidade dos projetos de autoconsumo operarem em diferentes níveis de tensão; (e) os coeficientes de partilha atribuídos aos participantes de um projeto de autoconsumo serem mais facilmente atualizados ao longo do tempo”. Francisco Gonçalves acredita que as potenciais alterações ao regulamento do autoconsumo, decorrentes desta consulta pública, vão auxiliar a dinamizar o setor e a agilizar a implementação de projetos de autoconsumo em Portugal.