A CIMBAL (Comunidade intermunicipal do Baixo Alentejo) em parceria com a EDIA (Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva, S.A.), apresentou recentemente o projeto “Viver o Clima no Baixo Alentejo”. A ação surgiu na sequência da aprovação de uma candidatura a projetos para reforçar a adaptação às alterações climáticas a nível local, o Programa Ambiente do EEA Grants, tendo por base a implementação de medidas do Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas do Baixo Alentejo (PIAACBA)
Com o intuito de contribuir para a implementação de medidas nesse âmbito, as entidades responsáveis pelo projeto pretendem implementar ações concretas no terreno, de forma demonstrativa, atuando nos oito concelhos nos oito concelhos (Aljustrel, Alvito, Beja, Cuba, Ferreira do Alentejo, Moura, Serpa e Vidigueira) que, simultaneamente, integram a CIMBAL e se inserem na área de influência do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva, EFMA.
Jorge Rosa, presidente da CIMBAL, explica à Ambiente Magazine que, a EDIA, enquanto entidade promotora e gestora dos EFMA, tem um “papel preponderante” na melhoria da disponibilidade de um recurso essencial na região: a Água. No entanto, o “desenvolvimento agrícola da região associado ao regadio”, apesar de “todo o auxílio que tem dado a nível social e económico”, tem contribuído para “alterações significativas dos usos do solo” e dos “valores naturais presentes”, afetando “áreas e ecossistemas essenciais no combate às alterações climáticas e seus efeitos”. Neste sentido, a EDIA tem “unido esforços” no sentido de “sensibilizar os principais agentes do seu território de atuação”, de forma a que os mesmos “apostem no aumento da resiliência dos sistemas agrícolas presentes”, face a estes fenómenos, refere. Como tal, a EDIA não poderia deixar de contribuir no sentido de conferir à região onde opera, uma maior resiliência neste sentido: “Reforçou-se a importância de um trabalho conjunto entre as entidades (CIMBAL e EDIA), aproveitando os conhecimentos e competências de ambas”.
[blockquote style=”2″]Será reforçado o conceito de serviço de ecossistemas[/blockquote]
De acordo com o responsável, caberá à CIMBAL promover workshops e seminários temáticos, assim como ações de sensibilização e visitas de campo aos locais onde estão a ser implementadas as ações. Além disso, a CIMBAL pretende também integrar a “Rede Intermunicipal de Educação” neste projeto de forma a “promover junto da comunidade educativa estas práticas”, bem como “sensibilizar para a adaptação às alterações climáticas”. Por seu turno, a EDIA tem como principal função nesta parceria a “conceção”, o “desenvolvimento” e a “efetiva implementação no terreno” de todos os projetos de conservação, restauro e recuperação.
Relativamente às mais-valias deste projeto, o presidente da CIMBAL destaca que, através da implementação de todas as ações previstas, será possível “evidenciar” e “demonstrar” as vantagens da “adoção de melhores práticas agrícolas” que garantam a “sustentabilidade a médio e longo-prazo da produção agrícola” e a “preservação dos recursos naturais do território”. Desta forma, será reforçado o “conceito de serviço de ecossistemas”, demonstrando a “toda a comunidade regante que é perfeitamente possível compatibilizar e retirar mais valias financeiras do que a natureza nos dá, sem descurar nem diminuir a rentabilidade da exploração agrícola”, assegura.
O projeto “Viver o Clima no Baixo Alentejo” vai decorrer nos próximos três anos e representa um investimento na ordem dos 200 mil euros. A ação é comparticipada em 85% pelo programa europeu EEA Grants, sendo os restantes 15%, relativos à comparticipação nacional, assumidos pela EDIA.
[blockquote style=”2″]Corre-se riscos se não houver moderação em algumas práticas agrícolas[/blockquote]
Jorge Rosa não tem dúvidas sobre o potencial do setor da agricultura no combate às alterações climáticas: “Muitas das práticas usadas na agricultura, e a forma como se explora a terra e a natureza, vão impactar diretamente na maior ou menor resiliência que se consiga nestes efeitos climáticos”. Para o responsável, o setor tem tido um “desenvolvimento enorme” com a “modernização da maquinaria”, com “novos produtos emergentes” e “novas formas de produção”. Ainda assim, atenta o presidente da CIMBAL, nem sempre este desenvolvimento é “amigo” do ambiente, pois em “muitas explorações” procura-se a “quantidade em detrimento de tudo o demais, até da qualidade”. E corre-se “riscos se não houver moderação em algumas práticas mais invasivas e de esgotamento rápido dos solos, ou que não protegem do clima e das alterações climáticas”, que serão cada vez mais fortes e impactantes: “Tem de haver consciência e alteração ou adequação de algumas práticas menos corretas, maior preservação ambiental e dos habitats, em suma, mais respeito pelo ambiente”, sucinta.
Quanto aos líderes políticos, o presidente da CIMBAL considera que lhes cabe estarem “mais atentos” e, ao mesmo tempo, “potenciar a que surjam melhores práticas e mobilização dos solos de forma adequada e moderada”. A Política Agrícola Comum (PAC) vai dando as diretrizes sobre a agricultura portuguesa e europeia, e nas últimas décadas o setor agrícola tem trabalhado ao encontro da mesma e dos apoios que proporciona: “Caberá aos decisores políticos encaminharem, através da PAC e de outros mecanismos europeus e nacionais, a agricultura que queremos ter, que deve ser sustentável, que não faça variações apenas dependentes dos apoios, mas que tenha em conta o clima e o ambiente de futuro, com produção sustentável e não agressiva”.
Quanto ao futuro, Jorge Rosa acredita que o setor da agricultura tem tido uma “boa pujança económica”, sendo “extremamente importante para Portugal” e, que “mais não fosse por produzir o que comemos”. Assim, é “vital” para o país e para a economia que o “setor progrida”, afirma, alertando para a importância dos “métodos e da forma de progressão seja adequada e sustentável”. Para o responsável, tudo é possível, a compatibilização ambiental com a componente económica, as práticas adequadas com as alterações climáticas e a sua mitigação: “Está ainda tudo em aberto, depende de todos nós conseguirmos fazer o caminho certo”, sublinha.
Lista de ações:
- Medida 1 – Conservação de sebes, matos e arvenses. Esta medida será direcionada às estruturas ecológicas no meio da área produtiva e à constituição de refúgios de biodiversidade para espécies ameaçadas. Serão geridas ou restauradas uma área de sebes, três áreas de culturas arvenses e três áreas de matos em bermas de estrada, abrangendo os oito municípios.
- Sebe – Concelho Ferreira do Alentejo
- Bermas de Estrada e Olival – Concelho Cuba
- Berma de estrada – Concelho Vidigueira
- Berma de estrada – Concelho Moura
- Berma de estrada – Concelho Beja
- Pousios da Messejana – Concelho Aljustrel
- Margens de Olival de sequeiro – Concelho Serpa
- Medida 2 – Restauro de charcos temporários. Esta medida visa restaurar e gerir uma rede de charcos temporários, que correspondem ao habitat 3170, um dos habitats prioritários na diretiva habitats e que está em declínio acentuado em território nacional nas últimas décadas. Serão recuperados quatro charcos temporários localizados em quatros municípios.
- Charco do Olival – concelho de Alvito
- Charco do Montado – concelho Aljustrel
- Complexo Charcos Moncorvo – concelho Beja
- Charco canal – Concelho Cuba
- Medida 3 – Restauro de galerias ripícolas. O restauro de linhas de água é essencial para a conservação da água, preservação do solo e depuração da carga de poluição das águas agrícolas. Serão recuperadas seis linhas de água em cinco municípios, totalizando mais de 4 km de galerias a restaurar, num corredor de cerca de 10 metros de largura, incluindo trabalhos de erradicação de cana.
- Açude Monte Azinheira – concelho Alvito
- Ribeira de Canhestros – concelho de Ferreira do Alentejo
- Ribeira Grous – concelho Beja
- Ribeira da Cardeira – concelho Beja
- Ribeira de Selmes – concelho Vidigueira
- Barranco da Morgadinha – concelho Serpa