Um especialista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) disse, hoje, que Portugal continental vai estar em situação de seca nos próximos meses, “mesmo que chova mais que o normal para a época, tornando-se preocupante se não se registar precipitação”.
“Se não houver precipitação até ao final de setembro, começamos o outono com uma situação grave”, afirmou à agência Lusa o diretor de Meteorologia e Geofísica do IPMA, Pedro Viterbo.
“É uma situação preocupante, mesmo com a segunda metade de agosto chuvosa e setembro anormalmente chuvoso, poderíamos, na melhor das hipóteses, baixar para seca moderada e seca severa”, acrescentou. No entanto, acrescenta, “o mais provável é que, mesmo com mais pluviosidade acima da média para a época, grande parte do país continuasse em seca severa e extrema”.
Num cenário com precipitação superior ao normal, disse, “temos situação de seca severa e seca extrema em grande parte do território, menos gravosa do que o cenário de precipitação normal, em que todo o país está em seca severa ou extrema”.
Os técnicos do IPMA utilizam a informação histórica para estes meses e elaboram três cenários, sendo o primeiro com base em valores de precipitação muito inferiores ao normal, o segundo com valores próximos do normal e o terceiro tendo em conta chuva muito superior ao normal.
O especialista comentava a situação de seca extrema ou severa que, no final de julho afetava 79% do território continental, enquanto os restantes 21% estavam em seca fraca a moderada, segundo o último boletim climatológico do IPMA. Na comparação dos seis meses de fevereiro a julho com o período de janeiro a junho, “temos um agravamento da seca e, neste momento, estamos com quase 80% do país com os dois mais altos níveis de seca: seca severa e seca extrema”, resumiu.
Acerca das consequências da seca, Pedro Viterbo referiu que, “se se materializarem os dois cenários mais gravosos”, há a possibilidade de se prolongar o abastecimento de água por autotanques no nordeste transmontano, o que acontece com frequência no verão. A continuar a seca com a gravidade atual até ao início de outubro, haverá igualmente, segundo o especialista, impacto nas pastagens e possivelmente nas barragens e albufeiras.
Questionado acerca da necessidade de abastecer a população de água em outras zonas, respondeu: “não creio que seja qualquer coisa que se alargue ao resto do país”. Mas, não deixou de realçar uma outra situação que pode ocorrer, “provavelmente mais gravosa que o abastecimento de água”. “Se mantivermos o solo seco, temos condições para ocorrência de incêndios superior ao normal, podemos prolongar a época de fogos, com incêndios intensos”, admitiu.