Testes realizados no âmbito do projeto LIFE AskREACH, do qual a ZERO (Associação Sistema Terrestre Sustentáve) é pareceria, revelam que alguns artigos de desporto podem conter substâncias prejudiciais para a saúde. Em comunicado, a associação ambiental refere que foram testadas bolas de ginástica, tapetes para yoga, dumbbells, cordas, utensílios de natação, garrafas desportivas, calçado de ginástica, entre vários outros artigos, adquiridos em 13 países europeus, entre eles Portugal.
No total foram analisados 82 produtos por um laboratório independente acreditado para avaliar a presença de substâncias que suscitam elevada preocupação em 25% dos artigos (20 no total), sendo que quase metade destes continham estas substâncias em mais de 0,1%, o que obriga o produtor e o retalhista a informar os consumidores sobre a sua presença, caso estes solicitem tal informação, pode ler-se no comunicado da ZERO. Contudo, atenta a associação, “nenhuma das empresas que produziram estes produtos respondeu ao pedido de informação enviado sobre a presença destas substâncias”.
Segundo o Regulamento REACH (Registo, Avaliação e Autorização de Substâncias Químicas), as empresas produtoras e os retalhistas estão “obrigados a disponibilizar aos cidadãos informação sobre a presença destas substâncias em artigos ou produtos, sempre que estas constituam mais de 0,1% do produto” e desde que o “consumidor a solicite”. A partir do momento em que “recebem o pedido de informação”, as empresas têm “45 dias para responder”, atenta a ZERO.
Segundo a associação, foi detetada a presença de “dois plastificantes (DEHP or DIBP)” que estão restringidos na União Europeia (UE) devido ao facto de serem tóxicos para a reprodução e interferirem com o sistema hormonal em sete artigos. Artigos que contenham estas substâncias em concentrações superiores a 0,1% não estão autorizados no mercado europeu desde julho de 2020. Contudo, uma bola de pilates continha uma concentração de 41% e uma overball uma concentração de 35% de DIBP, refere o mesmo comunicado.
Um outro artigo – corda de exercício – continha uma “concentração de 2,6% de parafinas cloradas de cadeia curta (SCCP)” que são muito “persistentes no ambiente”, são “reguladas pela Convenção de Estocolmo” e “não podem estar presentes em produtos em concentrações acima de 0,15%”, precisa a ZERO.
De acordo com a ZERO, foram enviados “pedidos de informação para todos os produtores dos artigos adquiridos pelos parceiros do projeto” e a “maioria não respondeu no prazo de 45 dias”, tal como a lei determina. No final, diz a ZERO, “cerca de 44% das empresas contactadas providenciaram informação sobre a presença destas substâncias nos seus artigos”. Contudo, as “empresas cujos artigos testados continham substâncias que suscitam elevada preocupação em concentrações superiores a 0,1%, todas responderam que os artigos não as continham”, refere.
Os resultados dos testes demonstram a “dificuldade de implementar a estratégia da UE” de solicitar às empresas que “voluntariamente deixem de utilizar estas substâncias” em artigos. Esta abordagem tem como resultado que “plastificantes que são tóxicos para a reprodução, parafinas que são persistentes e retardadores de chama que são cancerígenos” ainda “circulem em artigos de uso quotidiano”, alerta a associação.
A comunicação sobre a presença destas substâncias ao longo da cadeia de produção é “complexa e não raras vezes as próprias empresas não desconhecem a sua presença” nos produtos que comercializam. Desta forma, os resultados agora publicados demonstram que é “urgente melhorar a implementação do Regulamento REACH”, no sentido de “garantir maior conhecimento” sobre a presença destas substâncias ao longo das cadeias de produção e, principalmente, para “levar à não utilização” destas substâncias em artigos.
O projeto
O Projeto LIFE AskREACH foi pensado para apoiar os consumidores e as empresas nesta tarefa, promovendo o conhecimento dos cidadãos sobre os seus direitos à informação sobre a presença de substâncias de suscitam elevada preocupação nos artigos que compram. Para facilitar este processo foi criada uma App, a Scan4Chem, que facilita a comunicação entre os consumidores e as empresas e permite uma decisão mais informada por parte dos consumidores.
O projeto tem também uma linha de trabalho específica para empresas, procurando melhorar a comunicação ao longo da cadeia produtiva, no que diz respeito à presença destas substâncias químicas, dando ainda a oportunidade de disponibilizarem informação sobre os seus artigos na base de dados AskREACH, utilizada pela App Scan4Chem.
O projeto LIFE AskREACH é financiado pelo Programa LIFE da União Europeia.