O ano de 2020 anuncia-se um dos três mais quentes, alertou esta quarta-feira a Organização das Nações Unidas (ONU), apontando a probabilidade de o aumento da temperatura em 2024 exceder o limite de 1,5° C do Acordo de Paris, lê-se no site da Lusa.
Com os sucessivos recordes de temperatura, a década de 2011-2020 será a mais quente desde que há registos, com os últimos seis anos, desde 2015, a registarem as temperaturas mais altas, de acordo com o relatório anual provisório sobre o estado do clima da Organização Meteorológica Mundial (OMM). E “2020 foi, infelizmente, outro ano extraordinário para o nosso clima”, lamentou o secretário-geral da agência da ONU, Petteri Taalas.
Entre janeiro e outubro, a temperatura média global foi cerca de 1,2° C mais quente do que no período de referência 1850-1900, pelo que 2020 está a caminho de se tornar um dos três anos mais quentes já registados no planeta.
A avaliação da OMM assenta em cinco conjuntos de dados, que atualmente classificam todos 2020 como o segundo ano mais quente até hoje, depois 2016 e antes de 2019. A diferença entre os três anos mais quentes é pequena e a classificação exata pode mudar assim que os dados estiverem disponíveis para todo o ano.
“Os anos de calor recorde coincidem geralmente com um forte episódio de El Niño, como foi o caso em 2016. [O fenómeno] La Niña tende a arrefecer as temperaturas globais, mas a anomalia que apareceu este ano não foi suficiente para diminuir o aquecimento”, sublinhou Petteri Taalas. “Apesar dessa anomalia, já estamos a registar este ano um calor quase recorde, comparável ao recorde anterior de 2016”, observou.
O relatório da OMM aponta ainda a probabilidade de, pelo menos, um em cinco de a temperatura média global ultrapassar temporariamente 1,5° C até 2024. No entanto, um dos objetivos do Acordo de Paris, assinado em dezembro de 2015 por 195 países, é conter o aumento das temperaturas para 1,5° C em relação à era pré-industrial. Calor extremo, incêndios, inundações, aumento da acidez dos oceanos, uma época recorde de furacões no Atlântico são apenas alguns dos sinais de que as alterações climáticas mantiveram a sua progressão inexorável este ano, “ampliando as ameaças que a pandemia covid-19 faz pesar tanto na estabilidade económica como na saúde e segurança humanas”, alerta a OMM.
Os registos mais notáveis são os do norte da Ásia, em particular na Sibéria, onde as temperaturas estavam mais de 5° C acima da média. O calor na Sibéria foi mais forte no final de junho, com 38,0° C registados em Verkhoyansk no dia 20 desse mês, que é provisoriamente a temperatura mais alta observada ao norte do Círculo Polar Ártico. A época de incêndios florestais, que devastou grandes áreas da Austrália, Sibéria, da costa oeste dos Estados Unidos e América do Sul, foi a mais ativa dos últimos 18 anos.
“As inundações em partes da África e do sudeste Asiático causaram deslocamentos massivos e comprometeram a segurança alimentar de milhões de pessoas”, sublinhou o secretário-geral da agência.
Já o gelo marinho do Ártico atingiu seu mínimo anual em setembro, ficando em segundo lugar entre os menos extensos em 42 anos de observações de satélite. A extensão do gelo marinho da Antártica em 2020, por outro lado, foi semelhante ou ligeiramente maior do que a média dos últimos 42 anos, enquanto a Gronelândia continuou a perder massa, embora a um ritmo mais lento do que em 2019.
Quanto aos oceanos, que armazenam mais de 90% do excesso de energia que se acumula no sistema climático devido ao aumento das concentrações de gases de efeito estufa, ficou claro nas últimas décadas que o calor é absorvido de cada vez mais rapidamente, aponta o relatório.