Um estudo científico, recentemente publicado no “Marim Pollution Bulletin”, identificou a presença de “uma quantidade significativa de resíduos no canhão se São Vicente” a 12 km de Sagres. “Por cada 100 passos que dermos no fundo do mar, vamos tropeçar num qualquer pedaço de lixo. Pode não parecer muito, mas aquele item não devia lá estar”, alertou Frederico Oliveira, biólogo do Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve e coautor desta investigação. Três imersões feitas pela equipa de Frederico, detectaram a presença de 155 detritos numa extensão linear de 100 metros, noticiava o jornal Expresso.
Cerca de 70% do lixo humano que vai parar aos oceanos afunda-se, colonizado por fauna e flora, e, as grandes fendas rochosas subaquáticas, como os canhões de São Vicente, Nazaré, Lisboa, Cascais e Setúbal na plataforma continental portuguesa, transformam-se em depósitos finais. O restante terço flutua à superfície ou é arrastado na coluna de água.
Os canhões submarinos mais próximos de aglomerados urbanos, comos os de Lisboa e Setúbal, concentram sobretudo resíduos de origem terrestre, acumulando o que escapa às redes de esgotos urbanos e industriais, o que é deitado ao chão ou voa de caixotes do lixo e aterros, chegando ao mar transportado pelo vento e pelos rios. “Estes canhões são extensões submarinas dos rios e, portanto, o que é transportado nos cursos de água acaba por chegar ao fundo e acumular-se”, explicou Frederico Oliveira.
Outro estudo desenvolvido por investigadores da Universidade de Southampton, publicado na revista “Deep Sea Research, em 2011, encontrou 6616 detritos por quilómetro quadrado no canhão de Lisboa e somente um terço deste valor na Nazaré. Segundo outra investigação, coordenada por uma equipa do Instituto de Pesquisa Marítima da Universidade dos Açores e publicada na revista “Plos One”, em 2014, estima que, anualmente, vão parar aos mares 6,4 milhões de toneladas de lixo com impactos não negligenciáveis no ambiente marinho., Cerca de 600 observações com registo vídeo de 32 locais das águas do Atlântico Nordeste, Ártico e Mediterrâneo, os investigadores quantificaram densidades de 20 mil detritos por quilómetro linear percorrido na costa europeia.
“Os mares europeus são produtivos, mas não são saudáveis nem limpos”, afirmou recentemente a Agência Europeia do Ambiente, com base num relatório que indica que por trás deste mau estado de saúde está o lixo marinho, mas também outras pressões humanas relacionadas com a poluição directa, a libertação de águas residuais e de químicos originários da agricultura e actividade industrial ou as estracções e explorações energéticas.