Na semana em que a Comissão Europeia lançou a Estratégia para Biodiversidade no período 2020-2030 e em que se celebrou o Dia Internacional da Biodiversidade, a ASPEA (Associação Portuguesa de Educação Ambiental) assinalou a data com um webinar enquadrado no ciclo “Conversas com bom ambiente”. Este foi um evento virtual que decorreu sob égide do projeto europeu CareForest, no qual a associação é parceira e que visa a “capacitação para a educação florestal da comunidade escolar, desde os organismos de tutela educativa, aos professores e alunos”, refere a ASPEA em comunicado.
Em tempos de crises, a biodiversidade é um tópico recorrentemente abordado. Daí foram colocadas algumas questões que serviram de base às apresentações e às questões colocadas aos oradores convidados: Conheceremos, efetivamente, a importância da biodiversidade no Planeta e nas nossas vidas? Que ameaças enfrenta a biodiversidade do Planeta? Que responsabilidade tem o cidadão comum, as organizações e os órgãos políticos na proteção da biodiversidade e qual o papel da Educação Ambiental?
Para tal, o evento contou com a partilha de conhecimentos de três reconhecidos biólogos: José Matos, Bastonário da Ordem dos Biólogos; Milene Matos, fundadora da associação Bioliving e coordenadora do setor de conservação da natureza e Educação Ambiental do Município de Lousada e, ainda, Joaquim Pedro Ferreira, comunicador e produtor de peças de comunicação e documentários emitidos pela televisão nacional.
Para este webinar inscreveram-se 190 participantes, dos quais 42% docentes, 18% público geral com interesse na temática, 14% biólogos e áreas afins, 10% técnicos de ambiente, 8% estudantes, 4% profissionais de comunicação, 4% investigadores.
José de Matos apresentou-nos a sua perspetiva sobre o conceito de biodiversidade, a sua importância para a vida no planeta e as funções que desempenha na perspetiva das sociedades humanas. Alertou ainda para o facto de ser necessário, face ao declínio generalizado da biodiversidade, repensar o conceito de qualidade de vida que permita conciliar a manutenção e o restabelecimento, em várias escalas, dos valores naturais vão sendo perdidos. Fez ainda uma abordagem ao papel das organizações, como a Ordem dos Biólogos, em que os seus profissionais, contribuem para a identificação dos desafios que a biodiversidade enfrenta, assim como no desenho de soluções.
Milene Matos, recorreu a um exemplo concreto para explicar como as atividades humanas e os fatores daí decorrentes conduzem à perda de biodiversidade. As escolhas que fazemos enquanto consumidores, assim como a ausência de atitudes em prol da defesa da biodiversidade, foram os aspetos mencionados como mais relevantes. Demonstradamente durante os seus trabalhos de investigação científica, Milene Matos estabeleceu que os modelos produtivos assentes em monoculturas florestais e agrícolas intensivas para produção de bens leva a uma drástica redução da biodiversidade e dos serviços de ecossistema associados, porquanto ser necessário adotar comportamentos de consumo informadas e conscientes que reduzam a pressão da produção sobre a natureza.
Joaquim Pedro Ferreira forneceu alguns dados relevantes sobre a perda de biodiversidade no país e no mundo: Nos últimos 40 anos, o risco de extinção total de espécies aumentou, sendo hoje em dia “centenas de vezes maior do que a natural”; Mais de 33% da superfície da terra e 75% da água doce são utilizadas na agricultura e criação de gado e 40% das espécies de anfíbios, 33% dos recifes de coral, 25% de mamíferos e 14% de aves encontram-se ameaçadas, sendo que no caso dos insetos, embora mais complicado de avaliar, se estime que 10% das espécies estão em risco de desaparecer. Estas perdas não são dissociadas dos serviços que a natureza fornece ao ser humano. A biodiversidade presta serviços ao ser humano, por exemplo, ao nível da alimentação e manutenção da sua saúde, e estes estão também a perder-se. Neste sentido, importa participar na criação de cidadãos e sociedades informados e conscientes e é aqui que a comunicação acerca da biodiversidade para os diversos segmentos da comunicação se revela da maior importância.
Os participantes, em que cerca de 42% eram professores ou ligados à docência e educação inquiriram assim acerca da resposta que o sistema educativo poderá dar. Pela explicação dos oradores ficou patente que muito tem sido feito nos últimos tempos, pese embora o facto de os programas escolares estarem aparentemente distanciados da temática da foram referidas como boas práticas em curso a flexibilização curricular e a criação de espaço para a cidadania, permitindo uma crescente articulação com a Educação Ambiental. Nesta temática foi ainda referido o papel preponderante que os meios audiovisuais ganharam nestes últimos meses, sobretudo devido à necessidade de confinamento por motivos da COVID19.
E que podem os cidadãos, enquanto pais e educadores, fazer em concreto? De que recursos dispõem? José Matos, Milene Matos e Joaquim Pedro Ferreira destacaram as funções fulcrais detidas pelas organizações. Tanto a Ordem dos Biólogos como as ONG’s como os centros de investigação entre outros, colocam à disposição inúmeros recursos para desenvolver atividades, não somente com crianças e/ou alunos, mas para todo o tipo de públicos. Neste contexto, a ASPEA detém um relevante espólio de recursos de Educação Ambiental, fruto dos projetos que tem desenvolvido nos seus 30 anos de existência. Os participantes foram aconselhados a pesquisarem sobre atividades e respetivos recursos.
Na escola os comentários prenderam-se com as dificuldades materiais e logísticas que estas poderão ter em materializar, por exemplo saídas e visitas de estudo. Assim a resposta poderá ser dada em várias escalas, por exemplo, desde o Ministério da Educação às autarquias locais, às associações de pais. O trabalho conjunto e o reconhecimento de pessoas chave nas escolas e organizações consensualizaram-se enquanto fatores de sucesso para materializar o desígnio de uma aprendizagem em contacto direto com o ambiente em que os alunos se inserem, com especial ênfase nos valores naturais locais. “As pessoas certas no local certo” foi o mote avançado nos comentários.
Em conclusão, e na opinião dos oradores convidados, os problemas que afetam a Biodiversidade Mundial passam por uma resposta individual e com relevância para as políticas locais. A informação e formação conducente a atitudes e comportamento ambientalmente responsáveis é um dos fatores mais relevantes. Os recursos informativos e educativos estão colocados à disposição, importando assim estimular a sociedade ao seu acesso e uso. Os diversos tipos de públicos bem como todas as organizações desde as empresas às tutelas políticas nacionais e europeias devem ser capazes de implementar as soluções necessárias para tratar a crise da biodiversidade que está integrada, empolando outros problemas ambientais, na crise climática. Formar cidadãos ativos, sensíveis, conscientes, detentores de capacidade crítica é assim o caminho que urge percorrer.