Os níveis de ruído nas proximidades do aeroporto de Lisboa “diminuíram drasticamente”, especialmente devido à quebra na aviação provocada pela Covid-19, pode ler-se no site da Agência Lusa.
Estes níveis de ruído foram medidos pela organização ambientalista Zero. Depois de em julho do ano passado ter durante alguns dias medido o ruído no Campo Grande, próximo do aeroporto Humberto Delgado, a Zero voltou agora a fazer medições ao ruído no mesmo local. E conclui que “é impossível cumprir a legislação em Lisboa com o aeroporto em funcionamento normal” e que “a sua relocalização tem de ser equacionada no médio prazo”.
Numa altura em que há pouco trânsito e poucos voos, devido às restrições impostas pelas medidas de contenção da pandemia de covid-19, foram detetados alguns picos de ruído, especialmente devido a motos, e concluiu-se que durante a noite foi cumprido o valor legal de limite de decibéis, “apesar de os valores estarem muito próximos do máximo possível”, refere a Zero em comunicado. Assim, entende a associação, de momento está a cumprir-se a lei, o que não acontecia no ano passado, sendo que em termos de sensação auditiva o ruído em julho de 2019 era mais do dobro do registado agora.
A campanha de medição do ano passado, a que a Zero chamou “dÉCIbEIS a mais, o inferno nos céus”, de alerta e sensibilização para o ruído dos aviões e o seu impacto na cidade de Lisboa, continua a ser pertinente, “dado que o Governo português mantém, mesmo no quadro do enorme impacte na aviação da crise associada à covid-19, a intenção de ampliar de forma muito significativa a capacidade do Aeroporto Humberto Delgado”.
Comparando as medições do ano passado com as deste ano, em termos de imagem, a do ano passado forma uma mancha quase contínua de picos de som como resultado da passagem de aviões, enquanto na imagem deste ano há apenas picos esporádicos.
No comunicado a Zero lembra que o ruído causa uma forte perturbação na qualidade de vida das pessoas e está ligado a doenças crónicas, e assinala que a quase inexistência de voos, associada a alguma redução do tráfego rodoviário, “mostra que é possível cumprir os limites da legislação”.
A associação ambientalista defende uma reflexão sobre a forma de reconstrução da economia “de um modo mais sustentável, em linha com a resolução de outras crises como a crise climática” e tendo em conta “o aumento de emissões enorme que a aviação tem tido nos últimos anos e que na sequência da atual paragem vai ter uma recuperação lenta e talvez apenas parcial”. Deve-se por isso, acrescenta, procurar diversificar as atividades ligadas ao turismo. E diz que não se pode perder a oportunidade de discutir a inevitável relocalização do aeroporto Humberto Delgado, no médio prazo, “se se quiser respeitar a legislação e acima de tudo salvaguardar a saúde dos habitantes em redor”.
A Zero reitera “que os próximos 40 anos não podem ser decididos de forma irresponsável e impune” e que se o aeroporto é fundamental para o turismo, para o desenvolvimento e para a economia, também não se pode esquecer a saúde de quem vive próximo, pelo que o seu funcionamento não pode ser decidido de forma “opaca” e pouco “pensada e discutida”.