A cimeira da ONU sobre o clima terminou ontem, em Madrid, assinalando a urgência para conter as alterações climáticas mas sem chegar a acordo nos pontos essenciais, para “desilusão” de muitos que concordam que o evento ficou aquém das expetativas. O ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes; o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, e a presidente da COP25, Carolina Schmidt, são algumas das personalidades que se pronunciaram.
Ministro do Ambiente: O pouco que havia para se concluir não se concluiu
João Pedro Matos Fernandes afirmou, em declarações à Lusa, que “desde o primeiro dia que de facto esta COP tinha pouco para discutir. Mas o que é facto é que no pouco que tinha para discutir, ou sobretudo no pouco que tinha para concluir, não concluiu. E nesse aspeto sabe de facto a muito pouco”.
O ministro lamenta que não se tenha conseguido fechar “o único artigo que ainda estava em aberto no livro de regras do Acordo de Paris” (acordo de 2015 que compromete praticamente todos os países do mundo na luta contra as alterações climática e estabelece regras). O artigo em causa é o artigo 6.º e na COP pretendia-se eliminar, “ou pelo menos limitar dramaticamente aquilo que são os títulos de carbono que veem do passado e acabar com a dupla contabilização desses títulos” e “não se conseguiu fechar”.
O ministro lamentou a falta de um acordo neste aspeto mas salientou que “a Europa esteve muito bem” nesta matéria e que “é mil vezes preferível não ter havido um acordo” do que se ter “conseguido um mau acordo”. “Foram definidas regras para este ano e acreditamos que em julho é possível fechar esse artigo 6.º. Mas é um sinal muito negativo. Porque se pouco havia para decidir em concreto e esse pouco que havia não ter sido decidido não deixa de ser um sinal negativo para todos”.
De resto Matos Fernandes considerou que a Europa “esteve muito bem” quando apresentou um acordo sobre o clima o chamado Green Deal, na mesma altura em que decorria a COP25. “E Portugal esteve e estará bem. Porque não só apresentou os seus bons exemplos e mostrou estar de facto na linha da frente no combate às alterações climáticas, como se alguma mensagem negativa passar desta COP cá para fora, no sentido de alguns quererem menos ambição, Portugal não irá retroceder nem um milímetro”, garantiu.
Secretário-Geral da ONU: “Dececionado” pede que ninguém se renda
António Guterres, está “dececionado com os resultados” da cimeira sobre o clima (COP25), mas apelou aos países que continuem a lutar contra a crise climática sem se “renderem”. “A comunidade internacional perdeu uma oportunidade importante para mostrar uma maior ambição na mitigação e adaptação para enfrentar a crise climática”, lamentou.
O secretário-geral da ONU destacou que “está mais do que decidido” que 2020 será “o ano em que todos os países se comprometem a fazer o que a ciência” diz: é necessário ser neutro em carbono até 2050 e a “não ir mais além dos 1,5 graus de aumento da temperatura do planeta”.
Presidente da COP25: É triste não conseguir chegar a um acordo final
Carolina Schmidt mostrou-se insatisfeita com os resultados alcançados, considerando “triste” não conseguir chegar a um acordo quando se esteve “tão perto”. No discurso de encerramento da COP25, Carolina Schmidt, que é também ministra do Meio Ambiente chileno, apelou à necessidade de “uma resposta mais sólida, urgente e ambiciosa” para enfrentar a crise climática.
“Não estamos satisfeitos”, queixou-se Schmidt, lembrando que havia a esperança de conseguir encerrar o artigo 6.º do Acordo de Paris “para implementar um mercado de carbono robusto com integridade ambiental, focado em gerar recursos para transitar para um desenvolvimento sustentável, baseado em baixas emissões e resiliente ao clima”.
“É triste não conseguir chegar a um acordo final, quando estivemos tão perto”, lamentou, reconhecendo no entanto que existe um avanço “concreto” que faz “olhar com esperança” para o futuro, considerando que o documento ontem assinado é um legado “ambicioso e ambientalmente sólido”. Carolina Schmidt lembrou ainda que “os cidadãos do mundo” estão a pedir “avanços mais rápidos e melhores”.