O secretário-geral do PS e o porta-voz do PAN concordaram ontem sobre o combate às alterações climáticas, embora com diferenças de calendário em termos de metas, mas divergiram frontalmente sobre agricultura intensiva e limites ao turismo, analisa a Lusa.
Num debate com cerca de 30 minutos, na SIC, António Costa e André Silva falaram várias vezes sobre os pontos de convergência entre as duas forças políticas ao longo da última legislatura, mas nada foi dito (nem perguntado) sobre eventuais entendimentos nos próximos quatro anos.
A agricultura foi a área que motivou a discussão mais cerrada, depois de o deputado do PAN ter acusado o Governo socialista de seguir uma linha “depredadora” em termos ambientais com a exploração intensiva do olival no Alentejo – uma perspetiva que o primeiro-ministro rejeitou em absoluto.
António Costa respondeu usando argumentos de ordem económica, alegando que o olival intensivo representa apenas 1,5% da área total do Alentejo e que Portugal “não se pode dar ao luxo” de não aproveitar os seus recursos naturais.
Neste ponto, o líder socialista reconheceu alguma “concentração do olival” no Alqueva e referiu que o seu executivo decidiu já suspender os apoios em relação a novos projetos de exploração. Na mesma linha, o secretário-geral do PS demarcou-se da sugestão do deputado do PAN para que se limite em Portugal “a carga turística”, sobretudo na zona de Lisboa. António Costa assumiu antes como objetivos reduzir a sazonalidade e aumentar o turismo de natureza, principalmente nas regiões do interior.
A abertura de debate evidenciou alguma proximidade política entre PAN e socialistas, com André Silva a sustentar a tese segundo a qual o PS tem registado “uma evolução positiva em matéria ambiental”. No entanto, logo a seguir, advertiu que o PS “é pouco ambicioso” nos domínios das políticas ambientais, razão pela qual “é preciso dar mais força ao PAN” nas próximas eleições.
Entre outras medidas que considerou essenciais para o combate às alterações climáticas, o deputado do PAN sustentou que há já alternativas energéticas em Portugal para se concretizar o fecho das centrais a carvão do Pego e de Sines até 2023.
António Costa, por sua vez, afirmou que Portugal foi o primeiro país a assumir a meta da neutralidade carbónica em 2050 – compromisso que disse ainda não ter sido assumido pelo conjunto dos Estados -membros da União Europeia -, mas defendeu uma atitude de maior prudência em matéria de transição energética.
O secretário-geral do PS considerou possível que se encerre a central do Pego já em 2023, mas, em relação a Sines, situou o fecho dessa central num período compreendido entre 2025 e 2030. “Temos metas muito ambiciosas até 2030 nessa trajetória até 2050. Mas, qual a razão para não irmos mais rápido? Temos de saber contabilizar de forma justa aquilo que tem de ser a ambição de obter bons resultados do ponto de vista da descarbonização com a transição económica e na vida das diferentes famílias”, alegou.
Como exemplo, o secretário-geral do PS disse não ser “realista que, num prazo de 11 anos, as famílias e as empresas possam reverter totalmente o seu modo de vida e o seu modo de consumo energético”. “Temos de ser mais exigentes do que aquilo que o PS assume até 2030”, insistiu o deputado do PAN.