A AP2H2 – Associação Portuguesa para a divulgação e Promoção do Hidrogénio cumpriu, no passado dia 27 de novembro, 16 anos de existência. E garante que, tal como em novembro de 2002, se vive hoje um clima de grande expectativa relativamente ao contributo do H2 para a sustentabilidade energética e ambiental.
Em 2002, era o Protocolo de Quioto, subscrito por um conjunto de países entre os quais Portugal, que se comprometiam numa ação concertada a nível global que conduzisse à redução dos gases com efeito de estufa e ao controlo das alterações climáticas. O Hidrogénio (H2), recorda a associação, era a solução emergente que importava desenvolver para que um novo modelo energético, fortemente sustentado pelas energias renováveis, fosse concretizado. O H2 parecia ter um futuro promissor: era a resposta tecnológica às visões catastrofistas do fim do petróleo.
Novas jazidas de petróleo foram, entretanto, aparecendo aqui e ali, e o interesse pelo H2, foi esmorecendo.
Mais recentemente, e sobretudo devido ao incremento da produção de gases com efeito de estufa e consequente agravamento das alterações climáticas traduzidas em fenómenos de dimensão e frequência excessivos (re)colocou-se a necessidade imperiosa de encontrar um novo acordo dos países à escala global para uma nova ação concertada e mais ambiciosa conducente à redução dos gases com efeito de estufa: o Acordo de Paris, (dez. 2015).
Paralelamente o H2 foi fazendo o seu caminho, primeiro junto da comunidade científica e gradualmente ganhando espaço e reconhecimento internacional, envolvendo cada vez mais os grandes grupos empresariais em vários setores. Multiplicaram-se desde então iniciativas de teste e demonstração e o H2 passou a integrar a Agenda Energética e Ambiental.
O H2 já chegou ao mercado. É uma verdadeira revolução verde que está a fazer o seu caminho em várias partes do mundo: da Ásia, Austrália e Estados Unidos à Europa. Alimenta energeticamente quase tudo: empilhadores, bicicletas, scooters, automóveis dos mais diversos modelos (até de competição), autocarros, camiões, barcos, comboios… libertando apenas calor e água destilada.
Mais de 5.000 veículos com pilha de combustível circulam nos EUA, 2.400 no Japão, 500 na Alemanha, entre outros, é a resposta dos construtores de automóveis envolvidos na comercialização desde 2014 (Mirai Toyota, Nexus/Hyundai). Em quase todas as marcas de automóveis são apresentados modelos equipados a pilha de combustível a H2. Autocarros, circulam no Japão e em vários países europeus desde 2017. Na Alemanha, em setembro de 2018, entrou em funcionamento o primeiro comboio a hidrogénio. Em Lisboa, também em setembro de 2018, atracou o Energy Observer, o primeiro barco movido exclusivamente a energias renováveis e hidrogénio, que a AP2H2 teve oportunidade de visitar e de experimentar. Todos os dias se dão novos passos.
Inúmeros países da União Europeia e grandes grupos empresariais estão envolvidos na criação das infraestruturas logísticas para satisfazer a procura crescente deste tipo de veículos.
A mobilidade eléctrica a H2 alcançou a maturidade tecnológica e demonstrou a sua viabilidade económica no quadro dos objetivos de sustentabilidade ambiental e de autonomia energética.
Portugal tem estado arredado desta dinâmica, refere a AP2H2. Os decisores políticos têm focado a sua atenção na mobilidade elétrica a baterias ignorando o contributo do H2.
A assinatura, em setembro passado, da “Iniciativa Hidrogénio”, em Linz, pelo secretário de Estado de Energia, com vista à descarbonização de setores da economia, designadamente o setor energético e dos transportes, é um importante compromisso do governo que deverá ter necessariamente consequências com a respetiva tradução em instrumentos e políticas públicas, explica a associação.
O projeto H2Se, com o apoio do SIAC/COMPETE (2016-2018), permitiu à Associação realizar um novo conjunto de estudos que serão apresentados publicamente em fevereiro próximo e promover, em várias pontos do país, iniciativas envolvendo a comunidade escolar e científica, as empresas e o público em geral, ganhando nova dinâmica.
Ao fim destes 16 longos anos, um novo ciclo parece assim abrir-se à AP2H2. É um desafio mais exigente, num quadro marcado pela transição energética, resultante dos compromissos do Acordo de Paris, que é o de contribuir para a divulgação e promoção do H2 como solução energética facilitando a entrada no mercado desta nova tecnologia e contribuir para a definição das políticas públicas que se vierem a revelar como necessárias.
É preciso uma Agenda para o H2 que abrigue um conjunto de políticas, objetivos e metas e um roadmap para orientar a ação dos agentes económicos.
É este o desígnio que a AP2H2 ambiciona alcançar: apresentar, em fevereiro, publicamente, a sua proposta de roadmap do H2, realizado em parceria com a equipa do CENSE/FCT/UNL, como contributo para o RNC, em discussão pública, visando contribuir para a construção da Agenda Portuguesa para o H2.