As alterações climáticas estão a forçar espécies de peixes como a cavala a mudarem de habitat mais rápido do que a regulamentação de quotas de pesca, potenciando conflitos entre países, revela um estudo ontem divulgado e, posteriormente, citado pela Lusa.
O estudo, publicado na revista científica Science, concluiu que novas zonas de pesca poderão aparecer em mais de 70 países em resultado do aquecimento global. A história tem demonstrado que os novos pesqueiros partilhados entre países muitas vezes provocam conflitos entre eles, salienta em comunicado a Universidade Rutgers, nos Estados Unidos (EUA), que coordenou o novo trabalho.
A investigação assinala que um futuro com menos emissões de gases com efeito de estufa, causadores do aquecimento do planeta, reduziria o potencial de conflito entre nações sobre reservas de pesca, mas também sobre comércio, fronteiras marítimas e soberania territorial.
De acordo com os especialistas, os conflitos levam à pesca excessiva, que reduz a quantidade de peixe disponível e o lucro e o emprego que a atividade pesqueira fornece:
“A maioria das pessoas não sabe que o direito de pescar determinadas espécies de peixes é decidido frequentemente por órgãos nacionais e regionais de gestão pesqueira. Estes órgãos fixaram regras com base na noção de que certas espécies de peixe vivem em determinadas águas e não se movimentam muito. Mas os peixes estão a movimentar-se porque as alterações climáticas estão a aquecer os oceanos”, afirmou um dos autores do estudo, Malin Pinsky.
Malin Pinsky e o colega James Morley realçam, num outro estudo recente, que muitas espécies de peixes comercialmente importantes poderão nadar centenas de quilómetros em direção a norte em busca de água mais fria, o que, frisam, já está a acontecer, provocando perturbações na pesca e consequentemente conflitos entre países.
Os dois especialistas em ecologia e recursos naturais dão como exemplo a “guerra da cavala” entre a Islândia e a União Europeia (UE). Sujeitos às regras acordadas pelos países-membros, os pescadores da UE pescam uma determinada quantidade de cavalas por ano.
Contudo, em 2007, as cavalas começaram a nadar para águas mais frias, perto da Islândia, que não pertence à UE. A Islândia passou a pescar a súbita abundância de cavala, mas não concordou com a UE sobre os limites de pesca sustentável da espécie, dando origem a uma guerra comercial.
Um outro exemplo dado pelos investigadores da Universidade Rutgers é o conflito entre os pescadores de lagosta dos EUA e do Canadá. Esta espécie de crustáceo está a mudar-se para águas mais a norte, da região norte-americana Nova Inglaterra para as Províncias Marítimas do Canadá.
Os autores do estudo sugerem, como solução para disputas como estas, que os governos possam permitir a negociação de licenças e quotas de pesca através das fronteiras internacionais.