Biólogos do ISPA vão começar em setembro a monitorizar diversos rios do litoral oeste de Portugal, onde existem espécies de peixes únicas com milhões de anos de evolução, em perigo de extinção nos últimos anos pelas alterações climáticas.
“O principal objetivo é monitorizar as populações de espécies piscícolas da família dos ciprinídeos, ou seja, a família de peixes pequenos e muito diversos que vivem só em água doce, que chegaram à Península Ibérica há milhões de anos, e sete são exclusivas do nosso país”, afirmou à agência Lusa Carla Sousa Santos, coordenadora do estudo no ISPA – Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida.
Numa primeira fase, o projeto “Peixes Nativos” vai estudar a densidade populacional das espécies ‘ruivaco do Oeste’, característico dos rios Alcabrichel, Sizandro (Torres Vedras) e Safarujo (Mafra); e ‘boga portuguesa’ e ‘escalo do Sul’, existentes nas ribeiras da Lage e do Jamor, em Oeiras. As três estão consideradas criticamente em perigo, estatuto mais elevado de ameaça do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas.
“Fazia muita falta haver uma série longa de dados para termos uma noção do estado destas espécies”, adiantou. Nos próximos cinco anos, o projeto deverá ser alargado a 14 linhas de água existentes nesta região do país, onde habitam mais quatro espécies: ‘ruivaco’, ‘barbo’, ‘boga de boca reta’ e ‘escalo do norte’.
Os investigadores escolheram as ribeiras do litoral oeste de Portugal por não só possuírem os últimos exemplares de espécies em perigo, mas também por apresentarem características naturais que podem potenciar a extinção desses peixes.
“Os rios a sul do Tejo e do litoral oeste são rios de regime temporário, ou seja, sofrem cheias no inverno e, no verão, estão praticamente secos, por isso o seu curso de água fica interrompido e ficam reduzidos a pequenas poças, criando situações que podem conduzir à extinção de uma espécie de um ano para o outro”, explicou a bióloga.
O estudo de monitorização científica vai arrancar entre setembro e outubro, no pico da fase de ameaça, quando os rios costumam ter pouca água.
O projeto é uma parceria do ISPA com a empresa Águas do Tejo Atlântico e com os municípios de Torres Vedras, Mafra e Oeiras, e resultou dos últimos 10 anos de trabalho de campo.
A investigação é financiada pelos parceiros e em cerca de 13 mil euros por um fundo para a conservação das espécies, e em 27.500 euros pelo Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso dos Recursos (POSEUR). A candidatura foi apresentada pela Câmara de Torres Vedras.
Os investigadores começaram por lançar um plano de salvaguarda sobre o ‘ruivaco do Oeste’ e alargaram-no a seis espécies de peixes criticamente em perigo. Às três já mencionadas, juntam-se o ‘escalo do sul’, o ‘escalo do Arade’, o ‘escalo do Mira’ e a ‘boga do sudoeste’.
No âmbito do projeto “Conservação ex situ”, várias dessas espécies foram recolhidas do seu habitat natural, reproduzidas em cativeiro e libertadas nos seus rios de origem.
“Até agora libertámos quase 19 mil peixes na natureza e o balanço é muito positivo. Verificamos que este projeto contribuiu para um reforço populacional destas áreas repovoadas e temos mais peixes, o que minimiza o seu risco de extinção”, disse.
Além do ISPA, o projeto junta a associação ambientalista Quercus, o Aquário Vasco da Gama, a Câmara de Figueiró dos Vinhos e a Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa.