500 barreiras fluviais foram removidas na Europa em 2023, mas apenas duas em Portugal
Um relatório publicado pelo Dam Removal Europe revela que, em 2023, foram removidas quase 500 barreiras dos rios europeus, o que corresponde a mais de 4.300 quilómetros de rios reconectados. França e Espanha foram os países que mais barreiras removeram, 156 e 95 respetivamente, enquanto Portugal removeu apenas duas barreiras – uma delas removida pela ANP|WWF, naquela que foi a primeira remoção no país dinamizada por uma organização não governamental.
Em consonância com os objetivos da União Europeia, o restauro de rios através da remoção de barreiras continua a crescer. As 487 barreiras removidas em 2023 em 15 países europeus representam um aumento de 50% em relação ao número recorde registado no ano anterior.
“É espantoso assistir a mais um ano recorde de remoção de barreiras em rios europeus. As quase 500 barreiras removidas realçam o apoio crescente à recuperação dos rios para inverter a perda da sua biodiversidade, promover a sua resiliência face aos impactos das alterações climáticas e assegurar água em qualidade e quantidade para as pessoas”, refere Herman Wanningen, Diretor da World Fish Migration Foundation, parceiro fundador da Dam Removal Europe.
Mas nem tudo são boas notícias, como refere Ângela Morgado, diretora-executiva da ANP|WWF. “A Lei do Restauro da Natureza está atualmente no limbo depois de não ter conseguido obter votos suficientes no Conselho Europeu, o que é um enorme retrocesso pois a proposta de lei inclui um objetivo crítico para a recuperação de 25.000 km de rios através da remoção de barreiras. Em Portugal, continuaremos o nosso trabalho para um efetivo restauro fluvial, pois só isso poderá garantir rios saudáveis para as pessoas e para a biodiversidade”.
O relatório alerta também para os riscos de segurança das barreiras fluviais obsoletas. Os rios europeus estão fragmentados por mais de 1,2 milhões de barreiras, incluindo mais de 150.000 barreiras obsoletas – muitas das quais representam riscos significativos para as pessoas e vida selvagem. Algumas barreiras foram identificadas como potenciais “máquinas de afogamento”, devido à formação de correntes subterrâneas fortes e imprevisíveis. Neste relatório, fez-se a primeira tentativa de recolher informações sobre os riscos das barreiras para nadadores, canoístas e outros utilizadores recreativos dos rios. Verificou-se que ocorreram 82 incidentes em 16 países, que resultaram em 129 vítimas mortais.
Por outro lado, também os fenómenos climáticos extremos devido às alterações climáticas estão a aumentar o risco de colapso de barreiras, em particular das mais antigas e obsoletas, colocando vidas e propriedades em risco e causando prejuízos económicos. Com dezenas de milhares de barreiras obsoletas espalhadas pela Europa, o potencial de falhas catastróficas é um risco crescente para as comunidades a jusante. A título de exemplo, no ano passado, pelo menos três barreiras fluviais desmoronaram devido a chuvas fortes na Noruega, Irlanda do Norte e Eslovénia.
Ângela Morgado chama a atenção para a necessidade de eliminar estas barreiras obsoletas e evitar futuras catástrofes: “as barreiras obsoletas prejudicam o rio, aumentam a perda de biodiversidade e representam um risco crescente, uma vez que foram construídas para fazer face a condições climáticas muito diferentes das atuais. É altura de repensar a forma como gerimos os nossos rios, eliminando todas as barreiras obsoletas e deixando correr livremente o maior número possível de rios. Um rio que não corre livremente é um rio que morre lentamente”.
O movimento europeu de remoção de barreiras não mostra sinais de abrandamento, com muitos projetos previstos para 2024 e uma rede crescente de mais de seis mil indivíduos, que têm desempenhado um papel fundamental na sensibilização e na promoção de remoções em todo o continente.