A Ambiente Magazine celebra os seus 30 anos e para comemorar esta data especial perguntou a responsáveis dos vários setores no Ambiente que políticas e estratégias consideram que serão preponderantes nos próximos 30 anos. Aqui fica o comentário de Ana Isabel Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde.
Sendo os resíduos, na sua generalidade, um recurso valioso para a economia como para o ambiente, é necessário que sejam vistos e tratados como tal. Nesse sentido, o futuro do setor dos resíduos tem de passar, inevitavelmente, por uma maior intervenção articulada entre os agentes governamentais e económicos que possibilitem ao país conseguir montar outros sistemas de recolha seletiva para os fluxos de resíduos onde falta reciclagem, como os biorresíduos ou os eletrónicos, e que, à semelhança do que acontece com as embalagens, funcionem.
Nesta perspetiva, e globalmente, o sistema de gestão de resíduos em Portugal tem de ser mais eficiente, devidamente financiado e enquadrado do ponto de vista legislativo. Deve existir uma maior aposta na inovação, recorrer-se mais à tecnologia e à digitalização para que seja prestado um melhor nível de serviço ao cidadão do ponto de vista de qualidade e de conveniência, com maior proximidade dos ecopontos ou da introdução de sistemas como o pay as you throw, por exemplo. Além, claro, da necessidade de existir maior transparência em termos de política fiscal para o cidadão. Assim, um setor eficiente, transparente e com estabilidade terá as condições para atrair investimento e gerar valor, transformando resíduos em recursos.
Todo este movimento já deveria estar a acontecer, com sentido de urgência e não a pensar num período temporal tão afastado como daqui a 30 anos, para que realmente haja mais e melhor reciclagem em Portugal, com recuperação de mais recicláveis – e de qualidade – que permitam ao país alcançar as metas da reciclagem que estão já bem próximas.
Uma das grandes prioridades é reduzir significativamente a quantidade de resíduos urbanos produzidos e que vão parar a aterro. São ainda 54% e este número tem de reduzir para 10% até 2035. Isto significa que estamos, de facto, a desperdiçar muita matéria-prima que pode e deve ser reaproveitada para reentrar no processo produtivo.
No caso da cadeia de valor na qual a Sociedade Ponto Verde atua, e para finalizar, existe também a necessidade de continuar a investir-se em políticas de prevenção de resíduos; usar o ecodesign e o design for recycling durante o processo de conceção de embalagens; e, sempre, apostar em informação clara junto do cidadão e do consumidor sobre o tipo de embalagem que consome e como pode adotar melhores práticas no dia-a-dia que apoiem o futuro da circularidade e da Sustentabilidade.