“20 anos de Alqueva significa ver um projeto estruturante para o Alentejo, do qual muitos duvidavam, a atingir uma fase de consolidação e maturidade que nos orgulha e que nos transmite muita confiança para continuar a crescer”. Em declarações à Ambiente Magazine, João Grilo, presidente da Câmara de Alandroal, relembra aqueles que eram os objetivos iniciais do empreendimento, estando já em plena concretização: “A reserva estratégica de água, o abastecimento de água às populações, o fornecimento de água à agricultura e à indústria, a produção de energia limpa e a dinâmica turística são hoje realidades evidentes e com grande impacto positivo no desenvolvimento do Alentejo”.
No entender do também presidente da Agência para o Desenvolvimento do Alentejo (ADRAL), o Alqueva está a ajudar a mostrar ao país que a região é capaz de “gerir grandes investimentos de natureza estrutural” e colocá-los ao serviço do desenvolvimento global. O Alqueva tem sido, assim, um “grande foco” de atração de investimento nacional e estrangeiro: “Tem sido palco para implementação de novas tecnologias de gestão da água, de produção de energia e de sistemas de informação geográfica. Tem ajudado a converter terrenos não produtivos e tem sido espaço para a implementação de novas culturas. E está longe de atingir os limites das suas capacidades transformadoras”. Acresce o apoio da ADRAL em ajudar a EDIA (Empresa de Desenvolvimento e infraestruturas do Alqueva) na promoção externa, em vários pontos do mundo, das potencialidades do Alqueva, sendo notório o interesse que continua a despertar em novos investidores e novos tipos de investimento, destaca.
Questionado sobre o real impacto do Alqueva na região, João Grilo diz tratar-se de uma “reserva estratégica de água” que permite continuar a dar resposta no cenário limite de três anos sem chuva: “A água de Alqueva já chega ao litoral alentejano e aos limites do Baixo Alentejo. São mais de 20 concelhos dos distritos de Beja, Évora, Portalegre e Setúbal: abastece inúmeras populações e as cidades de Évora e Beja deixaram de ter problemas crónicos de abastecimento”, frisa. A isto, soma-se os cerca de “120 mil hectares regados” que dão um “impulso decisivo” à agricultura e à agroindústria da região, sustenta e a produção de energia através da “central hidroelétrica” e dos “projetos de energias renováveis associados”, algo que dá um forte contributo para a “estratégia nacional de transição energética”. O “aproveitamento das potencialidades da albufeira para fins turísticos” está a criar uma “rede de estações náuticas”, que integram “praias fluviais e desportos náuticos”, numa escala assinalável que abre caminho a hotéis, restaurantes e outros projetos de animação turística: “É claramente um destino turístico em si a consolidar-se dentro do Alentejo. Tudo isto se deve à criação do lago”, afinca.
Enquanto reserva estratégica de água, as questões ambientais revelam-se de extrema importância para o sucesso presente e futuro do empreendimento: “É prioritário o contínuo investimento no uso mais eficiente da água, no aumento da proporção de culturas mais adaptadas e no apoio a projetos de agricultura biológica e regenerativa”, considera o presidente da ADRAL, notando que “hoje, o regadio de Alqueva consome, por hectare, menos de metade do que se previa há vinte anos”, De acordo com o presidente da ADRAL, é um caminho que Alqueva deve seguir em consonância com as prioridades da Política Agrícola Comum e das exigências dos consumidores: “É notável o caminho realizado em 20 anos e, sem negar a necessidade de ajustes, a realidade da região é muito diferente de cenários extremos que, por vezes, se apresentam. Importa esclarecer que Alqueva também é espaço para a criação de áreas protegidas, para projetos de conservação de fauna e flora e que esse também é um dos atrativos conseguidos”. Há, também, um “grande trabalho de monitorização em curso” e há ainda um “grande caminho a fazer na procura de equilíbrio entre natureza e atividade humana numa enorme área que sofreu uma grande transformação”, afirma.
Num cenário atual de seca severa e quando muitas das grandes barragens nacionais registam níveis historicamente baixos, o Alqueva não baixou dos 80% de capacidade, indica João Grilo, alertando, contudo, para “não se perder a noção de que o clima do nosso país, em particular o de Alentejo, sempre se caracterizou pela irregularidade da pluviosidade e por anos de seca”. Aquilo a que se assiste hoje é a um “aumento da frequência e da intensidade”, com “redução contínua da pluviosidade global”, sendo que “as respostas estão na adaptação e no uso mais eficiente da água”, reforça.
Questionado sobre a possibilidade de projetos de dessalinização para a região, o autarca refere que o PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) vai, primeiramente, financiar a aplicação do processo no Algarve, pelo que, “no curto prazo, talvez não se coloque esta questão para o Alentejo, mas nunca pode ser totalmente excluída”.