A APRH (Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos) realiza entre 8 e 11 de abril o 17.º Congresso da Água. O evento decorre no Hotel Vila Galé em Lagos, Algarve, e Jorge Cardoso Gonçalves, presidente da associação conta tudo à Ambiente Magazine.
Qual o mote desta edição?
O 17.º Congresso da Água tem como pano de fundo a “ação rumo à sustentabilidade”. Para a gestão da água existem mecanismos de regulação, instrumentos de monitorização, tecnologia, conhecimento e profissionais capacitados e prontos a desempenharem o seu papel na sociedade. Mas vivemos um contexto de urgência de ação, de vontade e de mobilização. É necessário agir e colocar todos estes instrumentos em funcionamento articulado, por uma transição sustentável e resiliente.
Que temas serão abordados?
Neste congresso serão abordados diversos temas gerais e específicos, nos quais se enquadram as sessões plenárias e técnicas que se encontram previstas. Destaco os temas gerais: políticas públicas e governança da água; água e gestão do território; abordagens colaborativas, multidisciplinares e multissetoriais; ciência e tecnologia para a inovação no domínio da água; soluções de base natural; nexus água, energia e descarbonização.
Os temas específicos serão abordados nas sessões técnicas pelos mais de 200 autores que submeteram trabalhos técnico-científicos. Estas sessões encontram-se dividias nas seguintes áreas: recursos hídricos; serviços de águas; água e agricultura; uso sustentável da água; sistemas fluviais; água e energia; qualidade da água e dos ecossistemas; zonas costeiras; águas subterrâneas; hidráulica aplicada; água e território.
Que oradores podem já ser destacados?
O programa inclui intervenções de oradores nacionais e internacionais de referência, sessões plenárias com especialistas convidados e sessões técnicas para apresentação de trabalhos técnico-científicos desenvolvidos e em desenvolvimento em universidades, laboratórios, centros de investigação e empresas.
Destaca-se a intervenção especial da Sr.ª Ministra do Ambiente e Energia – Maria da Graça Carvalho, a fechar o primeiro dia do Congresso.
Não podendo destacar todos que estarão connosco em Lagos nesta “ação rumo à sustentabilidade”, referidos no programa detalhado que está no site do evento, teremos nas sessões plenárias diversas personalidades relevantes como Alexandra Serra, Alfeu Sá Marques, António Carmona Rodrigues, Catarina Sousa, Fernando Veloso Gomes, Francisco Taveira Pinto, Helena Alegre, Jaime Melo Baptista, João Paulo Lobo Ferreira, Joaquim Poças Martins, José Pimenta Machado, José Saldanha Matos, Paulo Marques, Pedro Perdigão, Philippe Gourbesville, Rodrigo Maia, Rodrigo Oliveira, Rui Ferreira, Susana Neto, Vera Eiró, Rogério Ferreira, entre outros.
Neste congresso serão ainda envolvidos ex-Presidentes da APRH e de Comissões Organizadoras de anteriores edições do Congresso da Água, bem como os Presidentes dos Núcleos Regionais e das Comissões Especializadas da Associação.
Quais os maiores desafios do setor da água atualmente?
O aumento da pressão sobre os recursos hídricos, o desequilíbrio entre disponibilidades e necessidades de água, o cenário de adaptação climática, o envelhecimento dos sistemas construídos e a gestão do risco são desafios presentes.
No atual contexto de exigência, é urgente assegurar a proteção dos recursos hídricos, garantindo que a satisfação das necessidades dos cidadãos e a procura da qualidade de vida não afetam a continuidade dos recursos nem a estabilidade dos ecossistemas.
Alguma razão em concreto para o Congresso se realizar no Algarve este ano?
Olhando para a iniciativa com uma perspetiva de coesão territorial, colocaria a questão: “e porque não o Algarve?”. No atual cenário de adaptação climática, os países do sul da europa, nos quais se inclui Portugal, encontram-se particularmente vulneráveis. Esta vulnerabilidade é mais acentuada em determinadas regiões, nomeadamente no Algarve, com fenómenos de seca meteorológica a potenciarem a escassez de água.
Para debater a “ação rumo à sustentabilidade”, ligado de forma intrínseca com os desafios climáticos e com a distribuição assimétrica dos recursos hídricos, a localização deste evento emergiu naturalmente.
Que medidas devem ser tomadas já para melhorar o setor?
A governança da água é um elemento central, sendo necessárias políticas públicas adequadas para os recursos hídricos e para os usos setoriais desses recursos. A abordagem deverá ser holística, integrada e supra-setorial.
Na gestão dos sistemas, realço a importância da gestão das infraestruturas hidráulicas construídas, da otimização operacional e da recuperação de custos, colocando na equação a “bomba-relógio” da não renovação dos sistemas em envelhecimento constante, com componentes que começam a atingir o seu tempo de vida.
A gestão adaptativa da água necessita de uma visão que considere desafios ambientais, demográficos, sociais, económicos, territoriais e climáticos.
O planeamento do território deve ter em conta o uso inteligente da água, suportado em soluções com preocupações hídricas, que beneficiem a conectividade, a circularidade e a resiliência face às atuais solicitações.
No espaço público, a gestão integrada dos serviços urbanos de águas com as restantes infraestruturas públicas é um exemplo de gestão racional, com a incorporação das linhas de água e da drenagem natural em meio urbano, com o equilíbrio entre a impermeabilização e a infiltração, e com a aposta em soluções de controlo na origem.
Outro aspeto importante a ter em conta é a aposta em inovação e tecnologia, considerando a importância da digitalização, da monitorização, da telemetria, da telegestão, da cibersegurança, da modelação, da manutenção preditiva e da incorporação de inteligência artificial em todas estas componentes.
A resposta aos desafios passa por combinar soluções – não romper com o que fizemos bem, adaptar o que não fazemos tão bem e inovar no que ainda não foi feito. Há caminho a percorrer na gestão da procura – redução de consumos e melhoria da eficiência hídrica, e na gestão da oferta – explorar origens de água alternativas.